quinta-feira, 24 de março de 2011

ORIGEM DAS ÁGUAS E DOS ANIMAIS MITOLOIA KAINGANGE

ORIGEM DAS ÁGUAS E DOS ANIMAIS MITOLOIA KAINGANGE


Em tempo muito distante houve uma inundação que cobriu toda a terra que era habitada por nossos avôs. Só o pico da serra Crinjijimbé não foi alagado. Os índios correram para ele levando pela boca tições acesos. Nem todos alcançaram o refugio e morreram afogados. Suas almas foram morar no centro da serra.

Só alguns conseguiram chegar ao cume, onde se instalaram. Uns ficaram na terra e outros, como não houvesse mais lugar, se penduraram nos galhos das árvores no pico da serra e ali passaram alguns dias sem que as águas baixassem. Não tinham o que comer e já temiam morrer de fome quando ouviram o “quebrei três potes, quebrei três potes” das saracuras que estavam carregando terra em cestos para aterrar o dilúvio.

Os índios gritaram às saracuras para que se apressassem. Estas os atenderam correndo e cantando. Chegaram mesmo a convidar os patos para que a ajudassem. Assim, dali a pouco, chegaram com o aterro ao cume, formando como um açude, por onde saíram os índios que estavam no chão. Quanto aos que estavam pendurados nos galhos das árvores, transformaram-se em macacos.

As saracuras com seus cestos de terra chegaram das bandas de onde o sol nasce; pelas águas de nossos rios correm todas para o poente e vão ter ao grande Paraná, o mar.

Um dia as águas secaram e os índios sobreviventes estabeleceram-se nas imediações da serra. Os índios Caiurucré e Camé cujas almas haviam ido morar no centro da terra começaram a abrir caminho para fora dela e chegaram a sair por duas veredas. Na aberta pelos que eram que eram da metade tribal Caiurucré brotou um cristalino ribeirão e, como era rasa e sem pedras eles ficaram com pés pequenos. A outra metade tribal os Camés que abriram passagem por terreno pedregoso, ficaram com pés inchados e seus pés ficaram grandes para sempre.

Antes de abandonar a serra, os índios atearam fogo no mato e com cinzas e carvão fizeram as onças e lhes disseram: “ agora vão comer gente e caça”.

As onças partiram rugindo. Mas como não tinham mais carvão para pintar, fizeram as antas com cinzas e lhes ordenaram: “Vamos caçar”

As Antas no entanto não tinham saído com os ouvidos perfeitos e por isso não escutaram muito bem as ordens. Estão perguntaram aos índios o que deviam fazer. Os Caiurucré, que já estavam ocupados em fazer outro animal, gritaram-lhes: “vão comer capim e ramos de plantas”. Elas ouviram e se foram. E por isso que se tornaram vegetarianas.

Os Caiurucré, estavam fazendo outro animal e ainda faltava a língua, dentes e algumas unhas. Mas começou a amanhecer e como de dia eles não trabalhavam puseram as pressas uma varinha fina no lugar da boca e deram por feita a criação. Esses animais passaram a ser chamados de um animal inacabado que só come formiga.

A seguir fizeram muitos outros animais. Enquanto Caiurucré, faziam os animais, os Camés, faziam outros para combatê-los. Fizeram cobras, abelhas, jaguatiricas.

Num vasto campo os é aos outros Caingangues e para melhor assentar a aliança deliberaram casar todos os rapazes e moças. Casaram primeiros Caiurucré com as filhas dos Camé e os Camé com as filhas dos Caiurucré.

Essa união devia ser assinalada por festas, mais não sabiam cantar nem dançar. Certo dia alguns Caiurucré que andavam à caça viram na clareira de um bosque junto do tronco de uma grande árvore um pequeno roçado. Encostadas ao tronco, havia algumas varinhas com suas folhas e uma delas com uma cabacinha enfiada na ponta. Estranharam aquilo, voltaram para a aldeia e comunicaram seu chefe. Esse no dia seguinte dirigiu-se com precaução à clareira e se escondeu atrás do tronco. Dali a pouco, as varinhas começaram a mover-se compassadamente de baixo para cima e uma voz débil começou a ouvir-se num canto. Ao mesmo tempo, num movimento cadenciado, a cabeça produzia um som musical.

O chefe aproximou-se do tronco e tudo cessou repentinamente. Procurou e nada mais viu no chão limpo e pisado junto ao tronco. Retirou-se e voltou no dia seguinte acompanhado de sua gente. Aproximaram-se com cautelas do roçado e viram e ouviram o mesmo que no dia anterior. Depois do primeiro canto, a voz contou outro. Eles decoraram os cantos acercaram-se do tronco e só viram as varinhas. Levaram estas fizeram outras iguais e prepararam uma grande festa. No dia marcado o Caiurucré abriu a boca e cantou as canções que tinha ouvido na clareira. Com a vara que tinha uma cabaça na ponta e com o corpo reproduziu os movimentos que tinha visto. Os companheiros imitaram-no e assim aqueles índios aprenderam a cantar e a dançar.

Decorrido algum tempo, o Caiurucré encontrou um bugio e levantou seu cajado para mata-lo. O bicho ficou de pé e começou a cantar e a dançar. Caiurucré compreendeu que foi ele o seu mestre da clareira.

O índio desistiu de matar o bicho e voltou para casa satisfeito. Ele contou aos outros que os animais sabem de muitas coisas que os índios não sabem. E se o sabem é porque foram os primeiros habitantes dessa terra.

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