terça-feira, 19 de outubro de 2010

A primavera

É PRIMAVERA


Ricardo Quinteiro de Mattos



Antes de falarmos sobre a primavera é importante registrar um fenômeno interessante que ocorreu nesse inverno. O Ipê amarelo floriu por duas vezes consecutivas, logo após duas ondas de frentes frias acompanhadas de baixa umidade no ar, o que foi uma grande surpresa. Pode ser um aviso de que a coisa não vai bem, mas eu quero acreditar que foi uma recepção a primavera, já que a segunda florada se deu na primeira quinzena do mês de setembro. Quem mais lucrou foram os pássaros, que tiveram mais insetos concentrados e mais néctar a disposição.

Cantada em verso e prosa e até em filmes de Humberto Mauro a estação do ano mais apreciada por todos os seres vivos é a primavera. A raiz etimológica da palavra primavera é de origem latina, “princípio de verão” Primo + Vera, uma preparação para a chegada do calor. É nessa estação que a biodiversidade de cada hemisfério se prepara para um novo ciclo de vida. Primavera também é o nome de uma planta nativa da Mata Atlântica, Bougainvillea spectabilis, que floresce em setembro, com florada em várias cores, cada uma mais linda que a outra.

Para a maioria dos brasileiros, primavera é apenas a estação das flores, mas essa designação vale mais para o hemisfério norte já que no hemisfério sul, especificamente no Brasil, ocorre grandes floradas nas quatro estações, portanto, o que a faz diferente das outras estações é a intensidade do amor.

O amor materno, o solidário, o fraterno, o da admiração e do acasalamento. Depois de uma prolongada estiagem, a chuva voltará com regularidade, a vida ressurgirá da palha e das cinzas. Falando de admiração, fiquem atentos as copas das árvores, a primeira coisa que podemos observar são os novos passarinhos deixando seus ninhos e ensaiado os primeiros vôos, alguns, com mais dificuldades, caem no jardim ou na calçada, não custa nada dar uma mãozinha. Acompanhei a evolução de uma ninhada de beija-flor tesoura, durante o mês de agosto e de setembro. Cronometradamente abandonaram o ninho no dia 23 de setembro dia em que entramos na primavera. Tão lindo quanto o filhote de beija flor é o ninho, feito de teia de aranha, um bom exemplo da prática de reciclagem.

Os Pássaros pensam que amanhece o dia só para cantarem. Como não somos pássaros, não podemos pensar que a primavera chega apenas para trazer as flores. Vale à pena relembrar que apesar de dividirmos o ano em quatro estações, os astrônomos, desde os dos antigos gregos e dos astecas, dividiam o ano da seguinte forma, solstício verão, quando o hemisfério está voltado para o sol e o solstício de inverno, quando o hemisfério está contra o sol. Entre eles estão o equinócio do outono e o equinócio da primavera, é quando a linha do equador, que separa os dois hemisférios, está em frente ao sol, e quando os dias e as noites têm 12 horas. Bom mesmo se pudéssemos avançar cada vez mais na pesquisa do universo e nas ciências tecnológicas, sem deixar de apreciar as flores e cantar como os pássaros.

É também na primavera que as maternidades estão mais cheias, o homem, assim como os seres de outras espécies, se organiza para criar seus filhos em uma estação mais quente. Até a chegada do primeiro inverno estarão os filhotes mais resistentes. É uma questão de perpetuar a espécie. A cada primavera renasce uma nova chance para a vida global. Com a sua chegada temos mais tempo e disposição para enxergarmos que muita coisa regenera, outras podemos perder para sempre.

A luz da ciência, é o sol o ator principal de todas essas mudanças. A terra e seus movimentos de rotação e translação são coadjuvantes, quem protagoniza o espetáculo da natureza é o astro regente de toda a nossa galáxia. Assim como a lua interfere diretamente nas marés, os raios solares que geram metabolizam a energia que move toda a vida em nosso planeta.

Em fim a primavera! Chega todo ano graças a sinergia de vários fenômenos da natureza. Não importa o que cada um espera de sua chegada, o importante é que continuaremos contribuindo para que essa sinergia não entre em colapso e que ela sempre volte.

Contemplemos, portanto, a primavera. Depositemos nossas esperanças nessa nova estação, que tenhamos fartura para as novas gerações. Que brotem também no coração de todas as pessoas o amor pelas outras espécies e o respeito pelas diferenças, assim como brotam as flores na primavera.