quarta-feira, 12 de outubro de 2011

terceira Edição de Exposição e Palestra

MATA ATLÂNTICA


Vem ai a 3 edição da exposição “Mata Atlântica –Um Olhar sobre a Região Sudeste”



Ao comemorarmos o dia do Meio Ambiente, em 4 de junho de 2010, aproveitamos para apresentar uma exposição com fotos e textos sobre a Mata Atlântica na Região Sudeste, distribuídos em 12 banners. O objetivo foi apresentar aos estudantes, professores e a população interessada nas questões ambientais, a Mata atlântica no espaço geográfico da região sudeste e sua biodiversidade. De uma forma lúdica e prazerosa, levamos essas pessoas a conhecerem melhor esse ambiente e refletir sobre as ações do homem e a reação da natureza. Também é nosso objetivo colocar esse público em contato com conceitos específicos sobre o assunto para se tornarem multiplicadores. Assim vamos formando grupos com maior número de pessoas conscientes da necessidade da conservação de nossas florestas.



Pouco conhecida por nós brasileiros, a Mata Atlântica é o mais rico e diversificado bioma do mundo e atrai a curiosidade de todos. É também o patrimônio natural mais ameaçado do Brasil e por isso apenas 7 % dessa mata ainda está preservada. Sua área total se estende do Estado do Piauí ao do Rio Grande do Sul, com uma biodiversidade inigualável, é detentora de grande diversidade cultural dos povos que nela vivem. Em seus 1.300.000 km² é possível encontrar vários ecossistemas interligados, como Restinga, mangues e florestas. Transpassa 17 estados brasileiros, mas por hora aborda apenas sua presença nos estados do Rio de Janeiro e Minas Gerais. A exposição com foco na educação ambiental tem como temas transversais a botânica, biologia, geografia, história e ecologia. Para nós é importante conhecê-la melhor por que é o nosso habitat.



Para realização desse trabalho foi feita uma pesquisa científica pelo Professor Ricardo Quinteiro de Mattos e a Professora Maria Inês C. T. Quinteiro de Mattos, durante os anos de 2008 e 2009. Eles visitaram várias RPPN, Parques Nacionais, Estaduais e Municipais e Reservas Biológicas nos limites dos quatro estados do sudeste. Levantando aspectos geográficos, da flora e da fauna. Durante essas visitas registrou um acervo fotográfico que em parte é apresentado na exposição.

Foi fundamental a participação da Promotora Cultural Liliane Mendonça, na articulação entre a equipe técnica e os colaboradores, bem como agendamento com os locais onde passa a exposição.

A participação do Instituto Francisca de Souza Peixoto, como colaborador através da pessoa do Marcelo Peixoto está sendo fundamental, Marcelo que é militante na defesa do meio ambiente e que tem uma extensa experiência em projetos culturais e ambientais, engaja na segunda experiência com a equipe técnica. A Primeira com o tema Rio Pomba.

Também a participação como colaborador da empresa Água Mineral Hélios, na pessoa do Filipe Mendonça Gonçalves Silva, está sendo fundamental. O próspero empresário participa pela segunda vez com essa equipe de um projeto educativo, por acreditar na importância da educação ambiental.

O trabalho de campo reiniciou em outubro de 2012. Vamos fazer a 3 edição da Exposição e da palestra sobre a Mata Atlântica.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Os Senhores da floresta

 OS SENHORES DA FLORESTA


Ricardo Quinteiro de Mattos



Por varias vezes, nessa coluna, citei em rápidas pinceladas os nativos do Brasil e suas relações com o meio ambiente, passei alguns exemplos de conservação da natureza e de manejo sustentável dos recursos naturais utilizados por esses grupos. Porque para mim todo dia é dia de índio, é dia de aprender mais um pouquinho com eles. O estudo dos grupos nativos é de uma dimensão impressionante como é uma análise do resultado desse estudo.

Nunca dei muita trela para dia disso ou daquilo, porque todo dia é dia de tudo e de todos (as). Como agora tenho um novo entendimento, de que as datas comemorativas são importantes para chamar a atenção dos mais distraídos. Nesse sentido vamos dedicar esse artigo ao dia 19 de abril, dia do índio, aos povos pré-históricos – caracterizados pelo uso de instrumentos de pedra e por serem ágrafos - aos que fizeram história – catequizados - e aos nossos contemporâneos, tantos os que ainda vivem de forma primitiva nas florestas como os que foram aculturados.

Existe uma corrente de pensadores que não poupam os índios do desmatamento e que foram os primeiros a iniciar a destruição das florestas. O que é uma grande injustiça. Existem pessoas que definem os grupos indígenas como uma horda de preguiçosos e intolerantes. Julgam pelo que ouviram de colonizadores do séc. XIX. Outros que os criticam por lutarem por demarcação de terras e fazerem uso de tecnologias avançadas. Todo mundo critica os donos dessas terras. Fazer o quê? Vou tentar aproveitar esses argumentos para mostrar quem realmente são a forma de ver a vida dos membros desse importante grupo étnico.

Índios, nativos, gentios e selvagens – cada denominação por uma condição diferente - sem falar dos adjetivos. Como sempre vou optar pela convenção: índios. Foram escravizados, aldeados, assassinados e excluídos. Falar sobre todos os grupos, ou pelo menos pelas as informações por mim levantadas, seria necessário um livro. No momento vamos aqui nos deter a suas relações com o meio ambiente, como aprenderam assim viver e desmitificar alguns mitos. Como se tornaram os senhores das florestas.

Quando os europeus chegaram a Pindorama ( terra das palmeiras), aqui viviam muitos grupos de índios, no litoral e nos sertões. Os mais conhecidos eram os do litoral. Esses grupos foram identificados como Tupis, e os que não eram Tupis eram Tapuias. No séc. XIX houve outra tentativa de classificar todos os grupos e origem, foi outro fracasso e não vale à pena registrar, já que tem muita gente por aí ainda cotejando esses disparates. No inicio do séc. XX uma tentativa seguindo moldes antropológicos europeus, como medição e comparação de crânios, acabou só criando uma teoria. Ainda no final do séc. XX um antropólogo brasileiro classificou grupos étnicos da seguinte forma: pequenas famílias lingüísticas, e quando o grupo é grande, por tronco lingüístico. Feito da seguinte forma, o tronco Macro Tupi (fusão das línguas tupi e guarani), Macro Jê e Aruak. Ainda há outros que não pertencem a nenhum desses, que são dezenas de dialetos. Finalmente em 1953 foi realizada uma convenção de antropólogos para uniformizar a grafia dos nomes tribais.

Todos esses povos ceramistas são descendentes do homem do sambaqui, e dos pré-ceramistas, ambos muito antigos. São agrupados em tradições como: a Una, Humaitá, Umbu Aratu e a Taquara e Itararé, que não são consideradas culturas, são apenas limitados ao uso de mesma técnica de confecção de utensílios. Viveram entre o ano 2 a 10 mil AC.

Os ceramistas viviam em constantes guerras tribais até o séc. XIX. A maioria das batalhas era por vingança – da morte de um irmão, roubo de mulher e por espaço de caça - que se tornou um círculo vicioso. Isso não quer dizer que são maus ou não têm respeito pela vida. Já os grupos da Amazônia (com exceção do leste) e do pantanal demonstraram que esses não viveram e não vivem em guerra. A diferença é o espaço em que viveram e em que vivem.

A questão do canibalismo é uma discussão muito ampla, resumindo, é uma prática filosófica de absorver as qualidades de valor do inimigo. Não tem nada a ver com cardápio ou predileção palatável.

Dos tupinambás é que temos mais informações, porque a língua tupi foi transformada em língua brasiliana ou língua geral do Brasil. Os Guaranis que falavam parecidos tiveram a língua incorporada e os demais que eram todos chamados de Tapuias, quando aprisionados ou aldeados tiveram alguns que assimilar a língua tupi.

Aqui na Zona da Mata, por exemplo, há vários núcleos urbanos: com topônimos indígenas do tupi (Piacatuba Pirauba, Paraibuna), mas os que aqui viveram falavam Macro Jê, eram Puris Coroados, Coropós e Aimorés. O topônimo Cataguases é uma exceção, os Cataguás eram do tronco Jê, e nem viveram aqui. Fica parecendo que todos aqui falavam tupi e não é assim. Eu fico pensando até quando ficarão esses povos desconhecidos pela nossa comunidade? Quando será possível falar deles saindo do achismo? Ou fazendo associações descabidas.

Outra coisa que falam por aqui, é que os Puris são descendes dos Goitacás do litoral, e que o nome Puri é uma forma pejorativa dos seus inimigos, de denominá-los. Até entendo que no inicio do séc. XX alguns pesquisadores como o Alberto Lamego - muito bom geólogo, mas não era especialista em índios, – fizessem tal afirmação, mas agora com recursos que temos, não dá para ficar repetindo esse tipo de coisa.

A síntese da vida desses povos era: a liberdade, a vida na mata e a vingança. Entre os do tronco Jê havia uma cresça de quando o individuo era mau e morria, seu castigo era reencarnar em um morador dos campos abertos. As matas eram o paraíso e os campos o inferno.

Alguns viajantes europeus que passaram por aqui tanto pesquisadores, pintores e memorialistas, descrevem os grupos da Zona da Mata como pessoas rústicas sem beleza. Mas o que é beleza, qual critério para enquadrá-la? Já falei sobre isso em outros artigos e que nos retornaria ao campo do preconceito e do estereótipo de beleza criado pelo europeu. No entanto, um desses viajantes, o Príncipe Alberto da Prússia que esteve uma visão diferente.

Felicidade para eles era a pescaria, a coleta das frutas; a contemplação do seu ambiente; fazer longas caminhadas; nadar no rio ou no mar; dançar, beber o cauim e saborear a carne moqueada. Nós só podemos fazer isso nos fins de semana, acho que somos semi-felizes, É como eu digo: cada um com seu cada um.

Os índios observavam e imitavam os pássaros em seus cantos e danças e depois repetiam para suas mulheres. Como as abelhas, adoravam as flores e os curumins chupavam seu néctar. Observavam a degustação de frutas de vários animais. Imitavam a onça na espreita da caça, a lontra na natação e a anta na busca do sal.

Tem um registro feito por um missionário protestante francês, de um ancião Tupinambá que lhe deu uma lição de ecologia e amor a natureza.

É de uma lição de moral e de princípios aos colonizadores e a nossa geração.

Em uma visita a Pedra Dourada, MG, com o fotógrafo Vicente e o Presidente do IFSP, Marcelo Peixoto, tivemos um papo com o índio Xingu Itatuitim Ruas, que é filho de criação de Rondom. Ele tem uma história de vida de superação, quase foi sacrificado ao nascer e chegou a ser chefe de varias delegacias da FUNAI. Entre tantas coisas dos costumes dos índios, ele nos contou que o Pico da Bandeira no Caparaó, é uma montanha sagrada, morada do Deus Rudá o Deus do amor. Na chegada da primavera, os pajés de todos os grupos de índios do sudeste iam para lá realizarem rituais religiosos. Uma das trilhas hoje é chamada de Caminho da Luz, só indo para ver a dimensão da energia. A explicação é que a reunião anual era para purificação dos espíritos dos componentes dos grupos e para pedir para natureza fartura ao novo ciclo, que se iniciava. Há registros de outras caminhadas dessas, feitas pelos Guaranis do sul.

Em um segundo encontro com Itatuitim, em Pedra Dourada, dessa vez com a jornalista Monique Gardingo, propositalmente perguntei na presença da minha amiga o significado de Cataguases, nome da nossa cidade e do rio localizado no município de Prado. Foi proposital por que quando lancei o livro, “Uma Viagem no Tempo Pelas Terras de Cataguases, em 2002, muitas pessoas não ficaram satisfeitas com o significado apresentado para Cataguases. Mesmo eu argumentando no livro que é um belo atrativo para a cidade o significado de “Terra de Gente Boa”. Embora seja um equívoco. Itatuitim Ruas, respondeu sem pensar ou fazer jogo de silabas, em somatórias infindáveis como fazem alguns autores. Disse ele na bucha: - Mato rígido! A Monique ficou espantada e eu ganhei uma testemunha ocular. É muito simpático e hospitaleiro continuar dizendo que Cataguases quer dizer “Terra de Gente Boa” e isso eu aceito com o turista. Mas o que não posso aceitar e se continue ensinando errado nas escolas.

Em São Paulo há mais topônimos com nomes indígenas do que em qualquer outro Estado da região sudeste, lá o homem do sertão utilizou dos mesmos artifícios dos índios de observar a natureza e para isso assimilou os costumes convivendo e aprendendo com os índios, nos episódios das entradas e bandeiras, o que lhes facilitou o aprisionamento e a escravidão. Na Zona da Mata mineira em aldeamentos missionários e na catequização espalhada ao longo dos rios Pomba, Chopotó, Paraíba, Muriaé e Doce a convivência ajudou em muito. Uma pena foi a guerra declarada aos Aimorés que os exterminou e a entrega de curumins Puris e Coroados a famílias de colonos, uma forma de diluição étnica.

Quanto à matriz etimológica de todos os troncos e da origem de grupos e Pindorama, me resigno a ouvir todas as hipóteses antropocêntricas eurocentristas de migrações, desde a passagem do indo europeu pelo estreito de Bering na última glaciação, até as rotas oceânicas via Polinésia no pacífico, diga-se de passagem, a menos fantasiosa. Acredito no autoctonismo nas Américas. Baseado em que? Ainda não tenho provas só subsídios, portanto ficamos aqui por enquanto.

A língua e os dialetos são dinâmicos e se adaptam a um novo contesto de tradições ou cultural. A linguagem evolui. As migrações internas – nas quais acredito e são provadas – trouxeram essa diversidade de tradições encontradas em vários pontos desse território.

Durante os primeiros 400 anos de história do Brasil construíram uma imagem dos grupos de nativos como decadentes e com dias contados, justificando a matança desenfreada. Com raras exceções ficou registrado o que sobrou desses grupos e de quem lutou por sua defesa como: Anchieta e Nóbrega, José Bonifácio e Guido Marlière, que de uma forma, ainda que ortodoxa adiaram ou amenizaram o sofrimento desses povos e Marechal Rondom e irmão Villas Bôas com propostas mais adequadas.

Com tanto pré-conceito com esses grupos, agora entendo por que ao serem diluídos serviram como exemplo para outros grupos que resistem bravamente e se impõem.

Não podemos mais ficar apenas entre duas opções: matá-los ou conservá-los. Temos que respeitar, independente de grau de tradição, de cultura e de desenvolvimento.

Como dizia Frederico, um dentista amigo meu já falecido, “a democracia é a ditadura da maioria” eu completava: governada por uma minoria em favor de suas próprias idéias. Foram-se os Puris e o Frederico. Ficaram as tradições e outros militantes. Bons tempos. Pena que uns tombaram, outros se refugiaram no anonimato e outros se travestiram.






terça-feira, 10 de maio de 2011

Obama não sabe de nada sobre o Brasil





Obama, muito simpático, chegou aqui no Brasil e fez média. “Se o Brasil é o país do futuro, o futuro chegou”, disse ele. De duas uma: Ao chegar à escada do Neoclássico Teatro Municipal ele parou, olhou para a fachada do prédio e em seguida para a esquerda, viu a fachada do prédio da Câmara Municipal, virou-se para a direita, viu a fachada da Biblioteca Nacional, virou-se mais um pouquinho e contemplou a Baia de Guanabara e assim como os navegadores portugueses, pensou: “ Deve ser um rio” e concluiu que o Brasil é um país da Europa. Ou ele não visitou os rios Miriti, Iguaçu, o córrego Lava-Pés, o lixão de Gramacho, ou um hospital publico. Não entendo um futuro com injustiça social.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

OUTONO: UMA ESTAÇÃO MADURA

OUTONO: UMA ESTAÇÃO MADURA


Por Ricardo Quinteiro de Mattos


Quem pensa que o colorido do verão vai embora com o fim da estação, está enganado. O outono chegou e com ele o amadurecimento de uma grande evolução que atravessou algumas estações. A primavera é a infância, o verão a adolescência e o outono é a plenitude da vida de um jardim. Os jardineiros, jardinistas, paisagistas e observadores mais atentos a natureza, sabem que o outono tem muitos encantos e comemoram a chegada da estação.

Para quem vive no hemisfério norte, agora é primavera. Lá o outono é em setembro, onde, na maioria das árvores, as folhas se avermelham e caem, é a estação denominada de outono boreal. Apesar do primeiro registro de estações do ano, está encravado no monumento megalítico de Stonehenge, construído na idade do bronze, a origem da palavra é latina, que traduzindo é Autumnus. É ainda no velho continente durante a idade média, que se torna um marco importante para trabalho e para a festa. Marca a época da colheita e ao seu final uma grande comemoração.

Há registros dos Tupinambás, que viviam por todo o litoral brasileiro, de terem atividades de subsistências ligadas aos calendários, solar, lunar e estelar. Sabiam muito bem quando chegava o outono. Era quando no céu (eivac) surgia ao leste a Uènhomuã uma brilhante estrela (jaceí-tatá). Vinham as últimas chuvas e entrava a temporada de pesca de lagostas e camarão, entre março e maio.

Aqui no hemisfério sul, inicia às 21h20 de 20 de março e termina em 21 de junho, é denominado de outono austral. É quando já não se pode mais ver a constelação de Órion, que se despede com o verão. Surge no céu a constelação de Leão, linda de se observar.

Esta fogosa estação não tem fronteiras geográficas no Brasil, mesmo tendo o país seis biomas diferentes com vários ecossistemas, a estação entra com personalidade marcante. Mas o que faz a diferença, do outono para as outras estações no nosso país é ver tanta diversidade aflorada, o que nos da à certeza que a vida no hemisfério sul é maravilhosa.

Isso acontece devido à inclinação da terra que nessa época traz ao hemisfério sul o fenômeno denominado equinócio de março, onde o dia e a noite, passam ter a mesma duração.

O jardim em um país tropical deve ser bonito o ano todo, a natureza articula para que isso aconteça, como faz nas florestas nativas. Mesmo depois um verão transbordando de energia solar direta e de chuvas torrenciais a biosfera brasileira sai do stress sem perder o colorido.

Por falar em cores - começando pelas nativas – no outono ocorre a florada da paineira, da quaresmeira de inflorescência roxa e rosa, da acácia brasileira, do manacá da serra, da helicônia, da alamanda, do pau-cigarra, do sombreiro, e tantas outras. Prosseguindo – falando das exóticas – os ipês de jardim, flor de abril, e a orquídea sapatinho. Por incrível que pareça, algumas árvores estão na fase de brotação de folhas novas, como o oiti da Mata Atlântica e a mangueira da Ásia.

Temos na Mata Atlântica árvores caducifólias, também chamadas de deciduais, que perdem as folhas durante o outono e o inverno. Ficam agrupadas em um ecossistema e divididas em tipos que variam conforme a altitude que se encontram.

Os pássaros já entenderam que é outono e não estão nem aí para zona de convergência do atlântico sul. Os endêmicos estão de volta aos ninhos. Sabem que quando o inverno chegar continuarão a criar seus filhotes, apesar de diminuir a oferta de alimentos, não lhe faltarão a ponto de comprometer a vida dos pequeninos. Os pássaros migratórios, como as andorinhas, sabem que chegou à hora de arribar. Já estão com seus filhotes prontos e com acúmulo de energia suficiente para seguirem o maior desafio de suas vidas. Ensinaram aos seus filhotes nessa primeira viagem como cruzar os continentes.

Outro fato marcante do outono, que ocorre no sudeste brasileiro são as águas de março, que para a maioria da população do interior de origem rural é chamada de chuvas das goiabas. Este ano está na quantidade certa. Isso quer dizer que a fruta mais abundante do outono, a goiaba, mais uma vez será o destaque, os maracanãs se saciarão e teremos fartura de goiabada e geléia.

Se a primavera é a estação do amor o outono é a estação da paixão, é porque o amor e a primavera são movidos pela razão, construídos passo a passo por um conjunto de emoções que são duradouras. O outono e a paixão são movidos pela emoção, já nascem prontos, portanto, é preciso aproveitar o momento.

Resta-nos desejar a todos admiradores da natureza uma ótima outonada e que desfrutem das maravilhas que essa estação proporciona. Que as colheitas de frutos, flores, soja e milho sejam fartas e utilizadas com sabedoria, quero dizer de forma sustentável.

Os nativos das Américas, Central e do Sul, também definiam as estações. Os astecas, incas e Maias dominavam a astronomia e construíram grandes monumentos para esse estudo.

Acho que Tim Maia, quando disse em uma de suas canções “Quando o outono voltar, eu quero estar junto a ti”, quis dizer que o outono não é só para viver uma grande paixão, é uma estação tão apropriada para o amor e como a primavera e por isso vale a pena amar e deixar esse amor se inspirar na natureza.

Tem inicio com o equinócio de março, onde o dia e a noite passam a ter a mesma duração e termina no solstício de junho. É só mesmo com a proximidade do inverno que se acomoda e espera a primavera se recuperando



domingo, 27 de março de 2011

ÁGUA É 'Y


PARA NÓS ÁGUA, PARA OS TUPINAMBÁS ‘Y

Ricardo Quinteiro de Mattos



A ONU criou em 22 de março de 1992, o Dia Mundial da Água, por uma grande causa. Ela é o recurso natural mais contaminado, mais adulterado, mais purificado e porque não dizer mais enxovalhado.

Compõem de 70 a 75 % do corpo humano e 3/4 do planeta e possui uma fauna própria e é da água que saíram as primeiras formas de vida terrestre. Os mamíferos depois de fecundados se desenvolvem imersos dentro da placenta, alguns partos já são realizados em piscinas para facilitar a transição de um ambiente para o outro. Os vegetais também possuem um grupo específico aquático e mesmo os que vivem fora desse ambiente são perenes. Há espécie que vive em regiões áridas e que se acostumou a viver com pouca água, uma adaptação evolutiva para preservar a espécie.

Ela é inodora, cristalina, purificadora, solvente e transportadora. Entre os quatro elementos da natureza definidos pelos gregos é o único que se apresenta de três formas, líquida, sólida e gasosa. Além de ser essencial para a vida e venerada como Mãe e Deusa.

As atividades dos seres vivos dependem da movimentação da água e de seu ciclo normal e contínuo. A sua viscosidade proporciona o movimento de corpos orgânicos e inorgânicos sobre e sobe ela. Sua densidade permite a flutuação dos organismos. Essas qualidades alteradas podem retardar o movimento e destruir a vida.

A água nunca se move em silêncio, seja no mar, nas nuvens, nas geleiras e nas cachoeiras, ela canta e dança. Na praia o balanço é com o ritmo das marés e com o som das ondas. Para quem mora no interior é na cachoeira que se apresenta saltitante, mesmo em grande movimento suas partículas parecem um só corpo e contagia os mais tímidos.

Da sua origem já falamos no J.A. nº 60, quando falamos da origem do planeta Terra. O planeta evoluiu e muitos minerais se modificaram ou se fundiram fazendo surgir novas classificações e, no entanto a água continuou impávida até a humanidade transformar os recursos naturais em atividades econômicas.

Durante muito tempo eu acreditei que os habitantes pré-históricos do leste de Minas Gerais, chamavam o segundo degrau do planalto brasileiro, a famosa Serra da Mantiqueira de: “A Montanha que Chora, Mãe das Águas e Gotas que Caem”. Tenho agora um entendimento que é uma tradução romanceada. Recentemente adquiri um dicionário do Tupi arcaico que revela que quem tentou chegar ao significado por analogia, chegou perto, apenas isso. O nome Mantiqueira, ipsis literis é uma versão aportuguesada de Mantykyra, do Tupi nheengatu que evoluiu do Tupi geral, que por sua vez evolui do Tupi arcaico, amanatykyra, amana = chuva + tykyra = gota. Ou seja, Gotas de Chuva.

Os Tupinambás, Maxacalis, Puris e Coroados tinham perfeita noção de onde vinha a abundância das águas dos rios que aqui passam. Que havia um ciclo e a origem era a chuva. Para eles a chuva tinha um sentido emotivo de maternidade da água. Esse conhecimento empírico já foi comprovado pela ciência. A origem da maioria das águas terrestres vem da chuva, com a rara exceção das águas termais que brotam do magma. Ainda tem gente que acha que os índios são preguiçosos e ignorantes, o que é um absurdo. Eles viviam do necessário, faziam manejo de sustentável e conheciam a fundo a natureza, só tinham uma forma diferente de explicar. Eles eram os caras!

Apesar de monossilábicos os grupos indígenas eram grandes observadores da natureza, procuravam uma explicação racional para os fenômenos naturais. Sabiam de sua interferência sobre os elementos físicos e a vida na Terra. Deixaram como legado para as futuras gerações a água da forma que receberam dos seus ancestrais. Agora a nossa história é diferente.

A água é também o mais suntuoso templo do esporte, da natação ao balé aquático, são muitos estilos e modalidades. Tanto em espaço aberto como fechado é altamente recomendado sua prática esportiva, pela beleza da competição como tratamento ou pela profilaxia aos humanos. Tem casos de muitos atletas famosos que iniciaram suas práticas por tratamento médico e se tornam estrelas.

É a mais antiga e a mais importante via de comunicação e transporte para grandes distâncias. É mais econômica, menos agressiva e menos poluente. No hemisfério norte é prioridade e está disputando o primeiro lugar com transportes sobre trilhos. No Brasil, a hidrovia amarga um terceiro lugar com uma grande desvantagem.

Hoje é considerado o maior atrativo turístico natural. Os municípios que tem cachoeiras, rios praias e lagoas têm muito mais facilidade de atrair turistas. Só que alguns governantes ainda não perceberam isso. Os municípios que utilizam a água como atrativo têm muito mais responsabilidades com esse recurso natural. Um município que não sai do debate e não trata seu esgoto, não recicla seu lixo, não tem respeito pela água e pelos seus munícipes. Nesse caso, ninguém irá visitar esses lugares.

São tantos os problemas a serem resolvidos que já estamos entrando em uma fase de priorizar. Além do lixo e do esgoto é necessário rediscutirem a cobrança do uso da água, a transposição de rios e a colocação de peixes exóticos nos rios de nossa região.

O homem, logo que saiu das cavernas, desenvolveu um sentimento místico e passou a utilizar água em rituais para suas atividades produtivas e religiosas. A água sempre foi o elemento da natureza mais utilizado em rituais de purificação e iniciação. Judaísmo, cristianismo, budismo, e espiritismo, a água é um símbolo importante. Instituições filosóficas milenares às vezes confundidas com religião, como a maçonaria, também fazem uso da água em suas iniciações.

Eu gostaria de ainda falar muito sobre a água, de suas propriedades e sobre o descuido que temos com ela. Mas já fui alertado pela minha revisora que já está de bom tamanho esse artigo. Queria também contar uma lenda indígena, mas por ser grande, postei no blog e pode ser lido lá. Às vezes um mito pode explicar de forma mais convincente o que a ciência, tem mais dificuldade. Acredito que as lendas são criadas por grandes observadores da natureza, especialistas nas ciências da emoção.







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quinta-feira, 24 de março de 2011

Bugio

ORIGEM DAS ÁGUAS E DOS ANIMAIS MITOLOIA KAINGANGE

ORIGEM DAS ÁGUAS E DOS ANIMAIS MITOLOIA KAINGANGE


Em tempo muito distante houve uma inundação que cobriu toda a terra que era habitada por nossos avôs. Só o pico da serra Crinjijimbé não foi alagado. Os índios correram para ele levando pela boca tições acesos. Nem todos alcançaram o refugio e morreram afogados. Suas almas foram morar no centro da serra.

Só alguns conseguiram chegar ao cume, onde se instalaram. Uns ficaram na terra e outros, como não houvesse mais lugar, se penduraram nos galhos das árvores no pico da serra e ali passaram alguns dias sem que as águas baixassem. Não tinham o que comer e já temiam morrer de fome quando ouviram o “quebrei três potes, quebrei três potes” das saracuras que estavam carregando terra em cestos para aterrar o dilúvio.

Os índios gritaram às saracuras para que se apressassem. Estas os atenderam correndo e cantando. Chegaram mesmo a convidar os patos para que a ajudassem. Assim, dali a pouco, chegaram com o aterro ao cume, formando como um açude, por onde saíram os índios que estavam no chão. Quanto aos que estavam pendurados nos galhos das árvores, transformaram-se em macacos.

As saracuras com seus cestos de terra chegaram das bandas de onde o sol nasce; pelas águas de nossos rios correm todas para o poente e vão ter ao grande Paraná, o mar.

Um dia as águas secaram e os índios sobreviventes estabeleceram-se nas imediações da serra. Os índios Caiurucré e Camé cujas almas haviam ido morar no centro da terra começaram a abrir caminho para fora dela e chegaram a sair por duas veredas. Na aberta pelos que eram que eram da metade tribal Caiurucré brotou um cristalino ribeirão e, como era rasa e sem pedras eles ficaram com pés pequenos. A outra metade tribal os Camés que abriram passagem por terreno pedregoso, ficaram com pés inchados e seus pés ficaram grandes para sempre.

Antes de abandonar a serra, os índios atearam fogo no mato e com cinzas e carvão fizeram as onças e lhes disseram: “ agora vão comer gente e caça”.

As onças partiram rugindo. Mas como não tinham mais carvão para pintar, fizeram as antas com cinzas e lhes ordenaram: “Vamos caçar”

As Antas no entanto não tinham saído com os ouvidos perfeitos e por isso não escutaram muito bem as ordens. Estão perguntaram aos índios o que deviam fazer. Os Caiurucré, que já estavam ocupados em fazer outro animal, gritaram-lhes: “vão comer capim e ramos de plantas”. Elas ouviram e se foram. E por isso que se tornaram vegetarianas.

Os Caiurucré, estavam fazendo outro animal e ainda faltava a língua, dentes e algumas unhas. Mas começou a amanhecer e como de dia eles não trabalhavam puseram as pressas uma varinha fina no lugar da boca e deram por feita a criação. Esses animais passaram a ser chamados de um animal inacabado que só come formiga.

A seguir fizeram muitos outros animais. Enquanto Caiurucré, faziam os animais, os Camés, faziam outros para combatê-los. Fizeram cobras, abelhas, jaguatiricas.

Num vasto campo os é aos outros Caingangues e para melhor assentar a aliança deliberaram casar todos os rapazes e moças. Casaram primeiros Caiurucré com as filhas dos Camé e os Camé com as filhas dos Caiurucré.

Essa união devia ser assinalada por festas, mais não sabiam cantar nem dançar. Certo dia alguns Caiurucré que andavam à caça viram na clareira de um bosque junto do tronco de uma grande árvore um pequeno roçado. Encostadas ao tronco, havia algumas varinhas com suas folhas e uma delas com uma cabacinha enfiada na ponta. Estranharam aquilo, voltaram para a aldeia e comunicaram seu chefe. Esse no dia seguinte dirigiu-se com precaução à clareira e se escondeu atrás do tronco. Dali a pouco, as varinhas começaram a mover-se compassadamente de baixo para cima e uma voz débil começou a ouvir-se num canto. Ao mesmo tempo, num movimento cadenciado, a cabeça produzia um som musical.

O chefe aproximou-se do tronco e tudo cessou repentinamente. Procurou e nada mais viu no chão limpo e pisado junto ao tronco. Retirou-se e voltou no dia seguinte acompanhado de sua gente. Aproximaram-se com cautelas do roçado e viram e ouviram o mesmo que no dia anterior. Depois do primeiro canto, a voz contou outro. Eles decoraram os cantos acercaram-se do tronco e só viram as varinhas. Levaram estas fizeram outras iguais e prepararam uma grande festa. No dia marcado o Caiurucré abriu a boca e cantou as canções que tinha ouvido na clareira. Com a vara que tinha uma cabaça na ponta e com o corpo reproduziu os movimentos que tinha visto. Os companheiros imitaram-no e assim aqueles índios aprenderam a cantar e a dançar.

Decorrido algum tempo, o Caiurucré encontrou um bugio e levantou seu cajado para mata-lo. O bicho ficou de pé e começou a cantar e a dançar. Caiurucré compreendeu que foi ele o seu mestre da clareira.

O índio desistiu de matar o bicho e voltou para casa satisfeito. Ele contou aos outros que os animais sabem de muitas coisas que os índios não sabem. E se o sabem é porque foram os primeiros habitantes dessa terra.

quinta-feira, 10 de março de 2011

2011 ANO INTERNACIONAL DA FLORESTA

                             2011 Ano Internacional das Florestas


2011 ANOINTERNACIONAL DAS FLORESTAS

2011 Ano Internacional das Florestas


Ricardo Quinteiro de Mattos



Uma nova estratégia da ONU está lançada e não é para menos. Assim como foi positivo o ano passado ser declarado 2010 Ano Internacional da Biodiversidade, esse ano foi declarado por assembléia geral, 2011 como Ano Internacional das Florestas, com o objetivo de divulgar a sustentável conservação de todo os tipos de florestas. Esperamos que essa nova experiência tenha resultado igual ou superior ao de 2010.

Nesse sentido, o Jornal Atual se propõe abrir o debate e a promover o diálogo sobre as florestas do mundo. São sete bilhões de pessoas que dependem de forma vital dessas florestas.

Mas como definir a floresta sem enveredar pelo lirismo? Como ser capaz de forçar a ser incessível a tal ponto? Não tem jeito. Indiferente ao ceticismo de alguns, acredito no amor entre algumas pessoas e plantas e pelo insólito prazer que eles tem de conversar e se entender. Portanto, vou me esforçar e seguir outra direção.

Vamos trilhar pelas origens do desenvolvimento até os dias de hoje. Quem quiser uma definição que entre pela mata e crie sua própria, viva a melhor experiência de sua vida.

O processo evolutivo das plantas é um pouco diferente dos animais. Embora evoluam pelos mesmos princípios da seleção gradual natural, tem diferenças na fisiologia e na reprodução.

A origem das florestas está nas algas marinhas, surgidas há 2 bilhões de anos, no período Ordoviciano na Era Paleozóica. Mas é precisamente no período Devoniano que o mar recua aumentando a área dos continentes, assim os primeiros vegetais passam a ocupar a superfície do planeta. Foi no Carbonífero registrado um procedimento evolutivo de um forte sistema vascular que permitiu o surgimento das primeiras florestas. Uma das primeiras espécies lenhosas foi a samambaia que existe até hoje em seguida a Lepidodentron e tantas outras espécies fósseis, já extintas. Nas Eras seguintes em seus variados períodos deu início ao martírio.

As plantas com flores surgiram a partir do grupo das gimnospermas, há 345 milhões de anos, um grupo de vegetais com sementes que não são envolvidas por frutos com polpa, um exemplo é a araucária. As espécies com flores, incluindo árvores, formam o grupo mais diversificado de plantas, são as angiospermas, que evoluíram a partir 135 milhões de anos até chegar à forma que possuem hoje.

Durante a evolução do planeta ocorreram vários cataclismos, choques e separação de continentes, choques e sobreposição de placas tectônicas, vulcanismo e glaciações. Segundo estudos geológicos foram de tamanhas proporções que geraram mega fases de desertificações com poeira sufocante e glaciações com frio inóspito. Isso sem falar no bombardeio que o planeta vem sofrendo de corpos celestes.

Por vários períodos diferentes houve extinção em massa de seres vivos, e agora são os seres humanos que colocam um novo em curso, com suas ações destrutivas. A grande diferença é que os primeiros se desenrolaram na casa dos milhões de anos e o último, a que tudo parece, não passará da casa do milhar, a menos que façamos alguma coisa.

Na Era terciária, as florestas sofreram catástrofes terríveis que quase sucumbiram, muitas foram soterradas e fossilizadas, transformadas em jazidas de carvão mineral e bacias petrolíferas.

Na Era Quaternária as florestas se recuperaram, surgiram novas espécies e tomaram a aparência que temos hoje. Também, uma nova espécie, a dos primatas, entra em processo de evolução, dando origem ao homem, o novo cataclismo.

A vida vegetal é completa. Nenhuma forma de vida do nosso planeta interage de forma sublime entre si e com outras formas de vida, como as plantas. Como definição de beleza e estética, sua forma de viver é tão bonita quanto sua aparência. É uma ignorância dizer que vegetar é se anular ou alienar é bom que se arrume outra metáfora para nulidade, vegetar é viver em harmonia.

A floresta, às vezes é profana, foi rotulada de lugar perigoso, morada das bruxas e do lobo mal. No inconsciente coletivo, é o esconderijo de bandidos, facínoras e feras insaciáveis. As nossas mães nos aterrorizam, quando crianças, com histórias européias sobre florestas assustadoras, com tudo isso, não há criança que queira nela brincar, com exceção dos escoteiros.

Outras vezes é sagrada, é cenário do paraíso cristão. Do nome de suas árvores os portugueses batizaram muitas famílias. Os Tupinambás acreditavam que os bons, quando morriam, seus espíritos iam para o alto das árvores, um paraíso.

É um ambiente romântico, foi onde Ceci conheceu Peri. Onde viveu Iracema, a virgem dos lábios de mel de cabelos mais negros que as asas da Graúna. Onde Riobaldo e Diadorim, no intervalo de uma refrega e outra, admiravam pássaros. Cenário da conturbada vida de Lampião e Maria Bonita. A restinga onde se passa a saga de Malanesa e Kin.

A floresta é também um lugar mágico. Veja esse pequeno trecho da fábula, A ÁRVORE QUE VIROU LIVRO, onde uma árvore narra seus temores “Eu sempre soube que a floresta era envolvida por magia, corria com o vento histórias de fenômenos que ultrapassam o limite da natureza. Falam de flores que foram transformadas em perfume, de seivas em cosméticos, de folhas em chá, frutos em doces e raízes em remédios Que horror! ”

No planeta contabiliza-se aproximadamente 3,7 milhões de espécies, no entanto, apenas 1,7 estão catalogadas. No hemisfério norte, as florestas temperadas têm o solo mais rico em fosfato, potássio e cálcio, porém, o clima é muito frio e não tem tantas variedades, o que torna mais fácil o manejo dessas florestas.

No Brasil, a floresta está presente de muitas formas. São sete biomas brasileiros, com exceção do marinho costeiro, os outros seis terrestres e seus vários ecossistemas, todos têm matas, mesmo em áreas de transição. Está em primeiro lugar de um grupo de 18 países que possuem 70% das florestas de todo o mundo, tendo o Brasil 20%. Hoje já temos catalogadas 13 mil espécies de fungos e 40 mil espécies de plantas vasculares. Porém, nas listas oficiais só estão presentes 43 mil espécies, contando com fungos, algas, briófitas, pteridófitos, gimnospermas e angiospermas.

Em conversa com o pesquisador Gustavo Martinelli, do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, ele afirmou que o trabalho de catalogação das espécies é demorado, diante da complexidade. Esse foi motivo pelo qual foi publicado o Livro vermelho da Fauna Ameaçada de Extinção e não ter ficado pronto o Livro vermelho da Flora, tendo sido publicado apenas uma lista. Nela consta 472 espécies ameaçadas e 1100 em potencial ameaça.

O primeiro botânico a pesquisar e catalogar as espécies da flora do Brasil foi o médico alemão Carl Friedrich Phillipp Von Martius, que viajou por quase todo o Brasil pesquisando, com seu inseparável amigo, o zoólogo Johann Baptiste Von Spix. Em uma das viagens veio a Zona da Mata mineira, precisamente a Sapé, hoje Guidoval, onde se encontrou com Guido Marlière. Martius em seu livro narra à exuberância da Zona da Mata. Foram três anos de pesquisa e 48 para organizar a obra. Alguns anos mais tarde ele e seus colaboradores publicaram o livro com o titulo Flora Brasiliensis, onde foi relacionado e descrito 22 mil espécies, ou seja, 1/3 do que temos hoje.

Toda essa grandiosidade, não pode ser apenas motivo de ufanismo mais também de mais responsabilidade por parte dos que foram favorecidos pela natureza.

Protetores da floresta são muitos, mas há dois exemplos emblemáticos que os citando, quero contemplar a todos. Augusto Ruschi- Agrônomo e ambientalista que viveu a maior parte de sua vida protegendo a Mata Atlântica, no Espírito Santo. Tornou-se o maior especialista do mundo em orquídeas e beija-flores, faleceu em 1986 devido ao agravamento de malaria e esquistossomose. O outro é Chico Mendes, homem da mata e seringueiro viveu toda sua vida em Xapuri, no Acre, protetor da Floresta Amazônica. Esse cirurgião de árvores só foi alfabetizado aos 20 anos, introduziu no país o conceito de sustentabilidade das florestas e seu manejo, foi propositor das 50 primeiras Reservas extrativista do Brasil. Reconhecido mundialmente como um ativista ecológico que buscava o caminho da paz na disputa da posse da terra. Foi assassinato em 1988.

Não vamos detalhar nesse artigo sobre a Mata Atlântica onde moramos, porque já falamos sobre esses detalhes, no entanto, vale a pena, como leitura complementar, solicitar as edições de nº 47,48,49 e 50, do jornal Atual. E também ler a fábula descrita com o titulo Árvore Que Virou Livro. Só acessar o seguinte link: biodiversidadeatual.blogspot.com