domingo, 27 de março de 2011

ÁGUA É 'Y


PARA NÓS ÁGUA, PARA OS TUPINAMBÁS ‘Y

Ricardo Quinteiro de Mattos



A ONU criou em 22 de março de 1992, o Dia Mundial da Água, por uma grande causa. Ela é o recurso natural mais contaminado, mais adulterado, mais purificado e porque não dizer mais enxovalhado.

Compõem de 70 a 75 % do corpo humano e 3/4 do planeta e possui uma fauna própria e é da água que saíram as primeiras formas de vida terrestre. Os mamíferos depois de fecundados se desenvolvem imersos dentro da placenta, alguns partos já são realizados em piscinas para facilitar a transição de um ambiente para o outro. Os vegetais também possuem um grupo específico aquático e mesmo os que vivem fora desse ambiente são perenes. Há espécie que vive em regiões áridas e que se acostumou a viver com pouca água, uma adaptação evolutiva para preservar a espécie.

Ela é inodora, cristalina, purificadora, solvente e transportadora. Entre os quatro elementos da natureza definidos pelos gregos é o único que se apresenta de três formas, líquida, sólida e gasosa. Além de ser essencial para a vida e venerada como Mãe e Deusa.

As atividades dos seres vivos dependem da movimentação da água e de seu ciclo normal e contínuo. A sua viscosidade proporciona o movimento de corpos orgânicos e inorgânicos sobre e sobe ela. Sua densidade permite a flutuação dos organismos. Essas qualidades alteradas podem retardar o movimento e destruir a vida.

A água nunca se move em silêncio, seja no mar, nas nuvens, nas geleiras e nas cachoeiras, ela canta e dança. Na praia o balanço é com o ritmo das marés e com o som das ondas. Para quem mora no interior é na cachoeira que se apresenta saltitante, mesmo em grande movimento suas partículas parecem um só corpo e contagia os mais tímidos.

Da sua origem já falamos no J.A. nº 60, quando falamos da origem do planeta Terra. O planeta evoluiu e muitos minerais se modificaram ou se fundiram fazendo surgir novas classificações e, no entanto a água continuou impávida até a humanidade transformar os recursos naturais em atividades econômicas.

Durante muito tempo eu acreditei que os habitantes pré-históricos do leste de Minas Gerais, chamavam o segundo degrau do planalto brasileiro, a famosa Serra da Mantiqueira de: “A Montanha que Chora, Mãe das Águas e Gotas que Caem”. Tenho agora um entendimento que é uma tradução romanceada. Recentemente adquiri um dicionário do Tupi arcaico que revela que quem tentou chegar ao significado por analogia, chegou perto, apenas isso. O nome Mantiqueira, ipsis literis é uma versão aportuguesada de Mantykyra, do Tupi nheengatu que evoluiu do Tupi geral, que por sua vez evolui do Tupi arcaico, amanatykyra, amana = chuva + tykyra = gota. Ou seja, Gotas de Chuva.

Os Tupinambás, Maxacalis, Puris e Coroados tinham perfeita noção de onde vinha a abundância das águas dos rios que aqui passam. Que havia um ciclo e a origem era a chuva. Para eles a chuva tinha um sentido emotivo de maternidade da água. Esse conhecimento empírico já foi comprovado pela ciência. A origem da maioria das águas terrestres vem da chuva, com a rara exceção das águas termais que brotam do magma. Ainda tem gente que acha que os índios são preguiçosos e ignorantes, o que é um absurdo. Eles viviam do necessário, faziam manejo de sustentável e conheciam a fundo a natureza, só tinham uma forma diferente de explicar. Eles eram os caras!

Apesar de monossilábicos os grupos indígenas eram grandes observadores da natureza, procuravam uma explicação racional para os fenômenos naturais. Sabiam de sua interferência sobre os elementos físicos e a vida na Terra. Deixaram como legado para as futuras gerações a água da forma que receberam dos seus ancestrais. Agora a nossa história é diferente.

A água é também o mais suntuoso templo do esporte, da natação ao balé aquático, são muitos estilos e modalidades. Tanto em espaço aberto como fechado é altamente recomendado sua prática esportiva, pela beleza da competição como tratamento ou pela profilaxia aos humanos. Tem casos de muitos atletas famosos que iniciaram suas práticas por tratamento médico e se tornam estrelas.

É a mais antiga e a mais importante via de comunicação e transporte para grandes distâncias. É mais econômica, menos agressiva e menos poluente. No hemisfério norte é prioridade e está disputando o primeiro lugar com transportes sobre trilhos. No Brasil, a hidrovia amarga um terceiro lugar com uma grande desvantagem.

Hoje é considerado o maior atrativo turístico natural. Os municípios que tem cachoeiras, rios praias e lagoas têm muito mais facilidade de atrair turistas. Só que alguns governantes ainda não perceberam isso. Os municípios que utilizam a água como atrativo têm muito mais responsabilidades com esse recurso natural. Um município que não sai do debate e não trata seu esgoto, não recicla seu lixo, não tem respeito pela água e pelos seus munícipes. Nesse caso, ninguém irá visitar esses lugares.

São tantos os problemas a serem resolvidos que já estamos entrando em uma fase de priorizar. Além do lixo e do esgoto é necessário rediscutirem a cobrança do uso da água, a transposição de rios e a colocação de peixes exóticos nos rios de nossa região.

O homem, logo que saiu das cavernas, desenvolveu um sentimento místico e passou a utilizar água em rituais para suas atividades produtivas e religiosas. A água sempre foi o elemento da natureza mais utilizado em rituais de purificação e iniciação. Judaísmo, cristianismo, budismo, e espiritismo, a água é um símbolo importante. Instituições filosóficas milenares às vezes confundidas com religião, como a maçonaria, também fazem uso da água em suas iniciações.

Eu gostaria de ainda falar muito sobre a água, de suas propriedades e sobre o descuido que temos com ela. Mas já fui alertado pela minha revisora que já está de bom tamanho esse artigo. Queria também contar uma lenda indígena, mas por ser grande, postei no blog e pode ser lido lá. Às vezes um mito pode explicar de forma mais convincente o que a ciência, tem mais dificuldade. Acredito que as lendas são criadas por grandes observadores da natureza, especialistas nas ciências da emoção.







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