segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

FLORADA

Dia da Árvore

O leste da Zona da Mata mineira e o Dia da Árvore


Ricardo Quinteiro de Mattos



A população do leste da Zona da Mata desde a formação política dos primeiros municípios, já se preocupava com a devastação da floresta. A população urbana reivindicava como podia, mas os poderes municipais estavam politicamente submissos ao governo ditatorial dos primeiros anos da República.

Os processos de expansão agrícola, da pecuária e do crescimento das ferrovias, levaram uma parcela de investidores a continuar desmatando incontrolavelmente. O país, no início do século, deu prosseguimento a política comercial de exportação de produtos extrativistas e agrícolas de monocultura e ainda financiava o desmatamento.

Para manter equilíbrio na balança comercial, o governo incentivava o aumento da produção, principalmente de café, e a exploração de madeira de lei, para abastecer o mercado mundial. A Europa que expandia suas estradas de ferro a todo vapor e já havia destruído suas florestas, era a principal importadora.

A exploração desmedida e a ausência de técnicas de adequadas de manejo, fez exaurir os nutrientes do solo dessa região, fazendo cair a produtividade. Esse desgaste e a queda de preço do café levaram os cafezais a serem substituídos por áreas de pastagem. A situação piorou, pois as queimadas passaram a ser anuais, eventualmente atingindo as poucas matas que restaram.

Em Cataguases jornais e revistas, porta vozes da comunidade, publicavam importantes artigos denunciando a devastação e exigindo medidas contra o desmatamento.

Saindo do discurso para a prática, na primeira década do século XX, foi iniciada a arborização urbana de Cataguases, com a escolha de magnólias e oitis, espécies da Mata Atlântica. Plantaram na primeira remessa, 317 mudas distribuídas por algumas ruas do centro da cidade. O objetivo inicial da arborização foi o saneamento, por indicação do Engenheiro Paulo de Frontim, que foi contratado para projetar a rede de coleta e distribuição de água potável e a rede de esgoto. De quebra Frontin, projetou as muretas do Córrego Lava-Pés. Hoje essas árvores fazem parte do nosso patrimônio natural e cultural, também cumprem um papel paisagístico, de embelezamento da cidade e continuam a exercer a inerente tarefa de atrair e abrigar uma grande diversidade de pássaros e uma infinidade de insetos.

A Revista da Mata, editada em Cataguases e de circulação em toda a Zona da Mata, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, publicou, em setembro 1917, um artigo parabenizando o governo por instituir o dia da árvore e por enaltecer as belezas naturais do Brasil. O artigo afirmava que só isso não bastava e alertou: “Cumpre também que se apliquem os meios necessários a sua conservação” e indo mais além, no final convoca: “Sejamos úteis”.

A festa do Dia da Árvore, nesse ano, foi para a cidade de Cataguases, um grande evento. Enquanto em outros municípios a comemoração acontecia apenas no âmbito escolar, aqui, a data foi comemorada na rua, como continuidade do plano de arborização da cidade. A festividade iniciou no largo, da Av. Cataguases, hoje Av. Astolfo Dutra, onde se encontra a Herma, com o busto do Dr. Astolfo. Todas as instituições escolares presentes entoaram o Hino a Árvore, de Coelho Neto e plantaram várias mudas. Daí saiu em cortejo levando faixas e estandartes em direção à Praça do Comércio, hoje Rui Barbosa. Na praça, já ornamentada, ocorreu uma solenidade cívica e a abertura oficial da primavera.

Em 27 de abril de 1921, a cidade de Cataguases recebeu a visita do diretor de serviço de reflorestamento da Secretaria Estadual de Agricultura, com o objetivo de realizar uma conferência e acertar o envio da capital de mais mudas nativas.

Foi nesse clima de cidadania que foi criado o Horto Florestal, em 1922, e em 1924 foi doada a área municipal para o governo do Estado.

Durante muitos anos, o viveiro de mudas do Horto Florestal de Cataguases foi fundamental para a recuperação florística de grande parte da região, totalizando 16 municípios beneficiados. Por sua importância, em 1994, foi reclassificado como Unidade de Conservação, sob administração do IEF, com a denominação de Estação Ecológica Água Limpa. Nesse último ano, o viveiro produziu 50 mil mudas de árvores nativas e 500 mil exóticas.

Nos últimos dez anos, o viveiro da CBA e Votorantim, também vem contribuindo com a produção de mudas para a região. Em média, são produzidas 90 mil mudas de árvores nativas da Mata Atlântica. Essas mudas são direcionadas a reconstituição de áreas de mineração e reflorestamento de áreas desmatadas em outras situações. Atendem também as solicitações de vários órgãos que os procuram em busca de parceria.

Essa vocação de reflorestamento desencadeou na região o surgimento de vários empreendimentos particulares de produção de mudas, que abastecem todo o país, tendo o município de Dona Euzebia, como destaque nessa atividade.

O dia da árvore está chegando e uma ampla parceria está sendo realizado, esse ano, para comemorarmos essa data e a chegada da primavera. Envolve o IEF, o IFSP, a ARPA, a Polícia Ambiental e a Secretaria de Meio Ambiente de Cataguases. Portanto, esperamos que a comunidade envolva-se como nos velhos tempos. Recorrendo a Eurico Rabelo, editor da Revista da Mata, fazendo de suas palavras as minhas, convoco a todos: Sejamos úteis.







BRASIL EM CHAMAS

Temos acompanhado pelo noticiário nacional, inúmeras queimadas por todo o país. De acordo com o INPE em setembro já foram contabilizadas 21.500 queimadas. Algumas espontâneas, diante do quadro alarmante de falta de umidade e outras propositais, em decorrência da prática ultrapassada de limpeza de pasto e que acaba atingindo as poucas coroas de mata que nos resta.

A ocorrência dos dois casos já chegou à Zona da Mata. Nesse domingo 12/09, foi possível contar seis focos de incêndio de larga proporção, de Três Rios a Juiz de Fora, e daí a Cataguases, mais quatro.

Além do triste quadro das labaredas de fogo consumindo a mata e do desespero das pessoas lutando para apagá-lo, é terrível ver o desequilíbrio gerado pelo incêndio. Uma conseqüência imediata é desencadeada pelas aves de rapina, se colocam à borda das matas e sem o esforço habitual, que faz parte do equilíbrio da cadeia alimentar, encurralam e capturam, com facilidade, a pequena fauna que foge das chamas. Sem falar do longo tempo que a mata levará para se regenerar.

Ainda temos muita coisa a fazer, se quisermos salvar nosso planeta. É preciso, apesar de tudo, ainda ter fé na humanidade. Mas só isso não basta, temos que estar constantemente cobrando uma nova postura das pessoas. Temos que entender, definitivamente, que a educação ambiental não pode ser pontual deve ser permanente e atingir a todas as camadas da sociedade.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

A primavera

É PRIMAVERA


Ricardo Quinteiro de Mattos



Antes de falarmos sobre a primavera é importante registrar um fenômeno interessante que ocorreu nesse inverno. O Ipê amarelo floriu por duas vezes consecutivas, logo após duas ondas de frentes frias acompanhadas de baixa umidade no ar, o que foi uma grande surpresa. Pode ser um aviso de que a coisa não vai bem, mas eu quero acreditar que foi uma recepção a primavera, já que a segunda florada se deu na primeira quinzena do mês de setembro. Quem mais lucrou foram os pássaros, que tiveram mais insetos concentrados e mais néctar a disposição.

Cantada em verso e prosa e até em filmes de Humberto Mauro a estação do ano mais apreciada por todos os seres vivos é a primavera. A raiz etimológica da palavra primavera é de origem latina, “princípio de verão” Primo + Vera, uma preparação para a chegada do calor. É nessa estação que a biodiversidade de cada hemisfério se prepara para um novo ciclo de vida. Primavera também é o nome de uma planta nativa da Mata Atlântica, Bougainvillea spectabilis, que floresce em setembro, com florada em várias cores, cada uma mais linda que a outra.

Para a maioria dos brasileiros, primavera é apenas a estação das flores, mas essa designação vale mais para o hemisfério norte já que no hemisfério sul, especificamente no Brasil, ocorre grandes floradas nas quatro estações, portanto, o que a faz diferente das outras estações é a intensidade do amor.

O amor materno, o solidário, o fraterno, o da admiração e do acasalamento. Depois de uma prolongada estiagem, a chuva voltará com regularidade, a vida ressurgirá da palha e das cinzas. Falando de admiração, fiquem atentos as copas das árvores, a primeira coisa que podemos observar são os novos passarinhos deixando seus ninhos e ensaiado os primeiros vôos, alguns, com mais dificuldades, caem no jardim ou na calçada, não custa nada dar uma mãozinha. Acompanhei a evolução de uma ninhada de beija-flor tesoura, durante o mês de agosto e de setembro. Cronometradamente abandonaram o ninho no dia 23 de setembro dia em que entramos na primavera. Tão lindo quanto o filhote de beija flor é o ninho, feito de teia de aranha, um bom exemplo da prática de reciclagem.

Os Pássaros pensam que amanhece o dia só para cantarem. Como não somos pássaros, não podemos pensar que a primavera chega apenas para trazer as flores. Vale à pena relembrar que apesar de dividirmos o ano em quatro estações, os astrônomos, desde os dos antigos gregos e dos astecas, dividiam o ano da seguinte forma, solstício verão, quando o hemisfério está voltado para o sol e o solstício de inverno, quando o hemisfério está contra o sol. Entre eles estão o equinócio do outono e o equinócio da primavera, é quando a linha do equador, que separa os dois hemisférios, está em frente ao sol, e quando os dias e as noites têm 12 horas. Bom mesmo se pudéssemos avançar cada vez mais na pesquisa do universo e nas ciências tecnológicas, sem deixar de apreciar as flores e cantar como os pássaros.

É também na primavera que as maternidades estão mais cheias, o homem, assim como os seres de outras espécies, se organiza para criar seus filhos em uma estação mais quente. Até a chegada do primeiro inverno estarão os filhotes mais resistentes. É uma questão de perpetuar a espécie. A cada primavera renasce uma nova chance para a vida global. Com a sua chegada temos mais tempo e disposição para enxergarmos que muita coisa regenera, outras podemos perder para sempre.

A luz da ciência, é o sol o ator principal de todas essas mudanças. A terra e seus movimentos de rotação e translação são coadjuvantes, quem protagoniza o espetáculo da natureza é o astro regente de toda a nossa galáxia. Assim como a lua interfere diretamente nas marés, os raios solares que geram metabolizam a energia que move toda a vida em nosso planeta.

Em fim a primavera! Chega todo ano graças a sinergia de vários fenômenos da natureza. Não importa o que cada um espera de sua chegada, o importante é que continuaremos contribuindo para que essa sinergia não entre em colapso e que ela sempre volte.

Contemplemos, portanto, a primavera. Depositemos nossas esperanças nessa nova estação, que tenhamos fartura para as novas gerações. Que brotem também no coração de todas as pessoas o amor pelas outras espécies e o respeito pelas diferenças, assim como brotam as flores na primavera.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Zona da Mata e o Dia da Árvore

O leste da Zona da Mata mineira e o Dia da Árvore


Ricardo Quinteiro de Mattos




A população do leste da Zona da Mata desde a formação política dos primeiros municípios, já se preocupava com a devastação da floresta. A população urbana reivindicava como podia, mas os poderes municipais estavam politicamente submissos ao governo ditatorial dos primeiros anos da República.

Os processos de expansão agrícola, da pecuária e do crescimento das ferrovias, levaram uma parcela de investidores a continuar desmatando incontrolavelmente. O país, no início do século, deu prosseguimento a política comercial de exportação de produtos extrativistas e agrícolas de monocultura e ainda financiava o desmatamento.

Para manter equilíbrio na balança comercial, o governo incentivava o aumento da produção, principalmente de café, e a exploração de madeira de lei, para abastecer o mercado mundial. A Europa que expandia suas estradas de ferro a todo vapor e já havia destruído suas florestas, era a principal importadora.

A exploração desmedida e a ausência de técnicas de adequadas de manejo, fez exaurir os nutrientes do solo dessa região, fazendo cair a produtividade. Esse desgaste e a queda de preço do café levaram os cafezais a serem substituídos por áreas de pastagem. A situação piorou, pois as queimadas passaram a ser anuais, eventualmente atingindo as poucas matas que restaram.

Em Cataguases jornais e revistas, porta vozes da comunidade, publicavam importantes artigos denunciando a devastação e exigindo medidas contra o desmatamento.

Saindo do discurso para a prática, na primeira década do século XX, foi iniciada a arborização urbana de Cataguases, com a escolha de magnólias e oitis, espécies da Mata Atlântica. Plantaram na primeira remessa, 317 mudas distribuídas por algumas ruas do centro da cidade. O objetivo inicial da arborização foi o saneamento, por indicação do Engenheiro Paulo de Frontim, que foi contratado para projetar a rede de coleta e distribuição de água potável e a rede de esgoto. De quebra Frontin, projetou as muretas do Córrego Lava-Pés. Hoje essas árvores fazem parte do nosso patrimônio natural e cultural, também cumprem um papel paisagístico, de embelezamento da cidade e continuam a exercer a inerente tarefa de atrair e abrigar uma grande diversidade de pássaros e uma infinidade de insetos.

A Revista da Mata, editada em Cataguases e de circulação em toda a Zona da Mata, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, publicou, em setembro 1917, um artigo parabenizando o governo por instituir o dia da árvore e por enaltecer as belezas naturais do Brasil. O artigo afirmava que só isso não bastava e alertou: “Cumpre também que se apliquem os meios necessários a sua conservação” e indo mais além, no final convoca: “Sejamos úteis”.

A festa do Dia da Árvore, nesse ano, foi para a cidade de Cataguases, um grande evento. Enquanto em outros municípios a comemoração acontecia apenas no âmbito escolar, aqui, a data foi comemorada na rua, como continuidade do plano de arborização da cidade. A festividade iniciou no largo, da Av. Cataguases, hoje Av. Astolfo Dutra, onde se encontra a Herma, com o busto do Dr. Astolfo. Todas as instituições escolares presentes entoaram o Hino a Árvore, de Coelho Neto e plantaram várias mudas. Daí saiu em cortejo levando faixas e estandartes em direção à Praça do Comércio, hoje Rui Barbosa. Na praça, já ornamentada, ocorreu uma solenidade cívica e a abertura oficial da primavera.

Em 27 de abril de 1921, a cidade de Cataguases recebeu a visita do diretor de serviço de reflorestamento da Secretaria Estadual de Agricultura, com o objetivo de realizar uma conferência e acertar o envio da capital de mais mudas nativas.

Foi nesse clima de cidadania que foi criado o Horto Florestal, em 1922, e em 1924 foi doada a área municipal para o governo do Estado.

Durante muitos anos, o viveiro de mudas do Horto Florestal de Cataguases foi fundamental para a recuperação florística de grande parte da região, totalizando 16 municípios beneficiados. Por sua importância, em 1994, foi reclassificado como Unidade de Conservação, sob administração do IEF, com a denominação de Estação Ecológica Água Limpa. Nesse último ano, o viveiro produziu 50 mil mudas de árvores nativas e 500 mil exóticas.

Nos últimos dez anos, o viveiro da CBA e Votorantim, também vem contribuindo com a produção de mudas para a região. Em média, são produzidas 90 mil mudas de árvores nativas da Mata Atlântica. Essas mudas são direcionadas a reconstituição de áreas de mineração e reflorestamento de áreas desmatadas em outras situações. Atendem também as solicitações de vários órgãos que os procuram em busca de parceria.

Essa vocação de reflorestamento desencadeou na região o surgimento de vários empreendimentos particulares de produção de mudas, que abastecem todo o país, tendo o município de Dona Euzebia, como destaque nessa atividade.

O dia da árvore está chegando e uma ampla parceria está sendo realizado, esse ano, para comemorarmos essa data e a chegada da primavera. Envolve o IEF, o IFSP, a ARPA, a Polícia Ambiental e a Secretaria de Meio Ambiente de Cataguases. Portanto, esperamos que a comunidade envolva-se como nos velhos tempos. Recorrendo a Eurico Rabelo, editor da Revista da Mata, fazendo de suas palavras as minhas, convoco a todos: Sejamos úteis.




sexta-feira, 20 de agosto de 2010

A árvore que virou livro



A ÁRVORE QUE VIROU LIVRO

Ricardo Quinteiro de Mattos







Eu já estava acostumada com minha existência numa mata cercada de frondosas e variada árvores e plantas. Não podia imaginar que meu destino mudaria de forma tão surpreendente. Eu sempre soube que a floresta era envolvida por magia, corria com o vento Histórias de fenômenos que ultrapassam o limite da natureza. Falam de flores que foram transformadas em perfume, de seivas transformadas em cosméticos, de folhas transformadas em chá, frutos transformados em doces e sucos e raízes, em remédios. Que horror! Tudo isso me assustava um pouco. Ah! Achava que era só lenda. Que força seria mais poderosa que a natureza? Ela que me balança com sua brisa, que me rega com a chuva, me aquece com o calor do sol, me alimenta com o sal da terra e ainda proporciona um espetáculo musical, composto de coral de pássaros e uma orquestra de insetos e outros amiguinhos. Até mesmo a pintada ao se ecoar em meu tronco, acariciava-me com seu pêlo macio.

Mas numa certa manhã, enquanto os primeiros raios do sol douravam nossas copas, um barulho estrondoso e desconhecido ecoou pela mata. Além dele nada mais se ouvia. De repente senti uma dor terrível, como se rasgassem minhas entranhas, seguida de uma tontura, senti perder meus sentidos, fui caindo e desfalecendo lentamente. A última coisa que me lembro desta agressão foi minha queda com um violento impacto, no chão envolvido por de muita folha seca que esvoaçava com o deslocamento do ar. Passei um longo tempo como se estivesse num limbo, estava hibernando. As sementes são assim, caem das árvores e ficam no chão por um longo tempo para quebrar a dormência, até a casca dura soltar-se para finalmente brotar. Juro pensei que tinha virado um caroço! Para minha surpresa a magia, que por tantas vezes me arrepiara, transformava-me num objeto útil. Ufa! Que alívio senti, quando pude ver a claridade de novo. Alguém terminava de me desembrulhar e fui colocado no alto de uma estante. Ah! Nas alturas de novo. Procurei as nuvens e não achei, aliás, não vi nada que lembrasse o meu lugar. Fiquei espremido, sentindo-me compactado. Já desesperado, diante do sobrenatural, num texto ao meu lado estava escrito: “Relaxe e seja bem-vindo ao mundo da leitura. Agora você é um livro”. Assim pude perceber que a magia na verdade não é uma lenda. Ela existe de uma forma ou de outra e pode até ter outros nomes, tanto que como um milagre renasci para outra vida. O tempo foi passando, agora de forma diferente, a cada dia me sentia mais orgulhoso do meu novo papel. He! He! He! Gostou do trocadilho? Já aceitava a transformação e compreendia que livro e árvore são importantes e que a existência de um não inviabiliza a do outro. Fui aprendendo e ensinando, entendi que não existe idade para conhecer as palavras. Ao contrário, as novas, junto de palavras já conhecidas, revelam-se, além de aflorar a curiosidade. Elas assim se desvendam: no verão pululam, no outono desnudam-se, no inverno cristalizam-se e na primavera colorem-se. Ao ler meu conteúdo, todos sentem algum tipo de emoção. Nós, livros – como oráculos – contamos a História da humanidade, preparamos para o desconhecido, levamos crianças a tirar boas notas, pessoas a viajar pelo mundo real e imaginário, geramos satisfação e prestígio. Nós eternizamos a palavra! A única coisa que entristece é ver que as pessoas não lêem, por serem analfabetas ou porque alguém que se dispõe a escrever não consegue reproduzir, publicar e editar sua forma de ver o mundo. O melhor de tudo é que, como livro, eu pude sentir o verdadeiro espírito da floresta. E que se manifesta. Quando me folheiam, sinto o frescor da brisa; quando me levam ao parque, sinto o calor do sol; quando sou levado à escola, ouço a sinfonia das crianças; ao ser lido no jardim, sinto o cheiro de terra. Enfim, sinto que ainda estou vivo.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Exposição Mata Atlântica - Um olhar sobre a região sudeste.

Ano internacional da Biodiversidade - Terceira parte





2010 O ANO INTERNACIONAL DA BIODIVERSIDADE - Terceira Parte.


Por Ricardo Quinteiro de Mattos





Dando continuidade às informações sobre o Ano Internacional da Biodiversidade, concluiremos nessa terceira parte, as informações com relação ao Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção e faremos algumas considerações sobre as estratégias da defesa da biodiversidade.

As listas do Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção e a lista da Flora Brasileira Ameaçada de Extinção são utilizadas como fonte primária de informações e servem também como alerta para os legisladores. As listas apresentam informações que levam a possibilidade de uma espécie chegar à extinção. Servem também para direcionar prioridades que algumas espécies exigem e as formas de influência antrópica sobre elas, ou seja, o grau de desequilíbrio que afeta sua existência. O diagnóstico apresentado serve como poderoso instrumento para ações que impeçam a extinção de uma espécie que corre risco, e ainda estimula as pesquisas na direção das espécies ocultas, que podem ser perdidas para sempre.

A metodologia utilizada é a mesma da IUCN- International Union for Conservation of Nature. São parâmetros científicos, que possibilitam a verificar se alguma espécie está em risco ou não, o grau do risco, ou ainda, se está extinta.

De posse de todas essas informações, órgãos governamentais e organizações não governamentais, iniciativa privada e tantos cidadãos anônimos, desenvolvem ações importantes para reverter o quadro de destruição, mas falta recurso financeiro e estratégia política.

Quando falo de estratégia política, estou falando de pensar com pragmatismo, planejar com inteligência e agir com energia. Construir uma política nacional que não seja de cima para baixo ou de baixo para cima. Que seja articulada.

Não é admissível, órgãos que estão na base atuando diretamente na pesquisa, conservação, repressão e educação ambiental, não terem os recursos necessários para atuar. Temos as melhores leis ambientais do mundo e não temos os recursos financeiros e humanos necessários para todas essas tarefas. É uma pena que ainda não exista um repasse financeiro de fundo a fundo para os órgãos ambientais dos Estados e Municípios.

O governo brasileiro tem assumido acordos internacionais que são grandes desafios e que estabelecem metas a serem cumpridas. Por isso são criadas leis ambientais e estâncias no âmbito do Ministério do Meio Ambiente. No entanto, não são apontadas as fontes de recursos financeiros e o orçamento anual está muito longe de ser o mínimo necessário.

Ainda assim, vejo de forma otimista esses acordos, já que desencadeiam a criação de várias instâncias no Ministério do Meio Ambiente que estão, ao longo dos últimos anos, desenvolvendo importantes trabalhos, entre eles, o livro Vermelho. Um dos mais importantes acordos assinados pelo governo brasileiro nos últimos vinte anos foi a Convenção sobre a Diversidade Biológica.

Mesmo com esse esforço coletivo de governos e do terceiro setor, ainda é pouco pelo estrago que continua sendo feito. A sociedade não é informada e muita coisa destrutiva ainda é feita por má fé, ganância e ignorância.

Entre todos os recursos que dispomos, um se destaca em todo mundo, é a educação, e é aí que temos que concentrar nossas forças. Acredito que os próximos 50 anos serão decisivos para a preservação de todas as formas de vida em nosso planeta. Temos que agir.

domingo, 1 de agosto de 2010

2010 Ano Internacional da Biodiversidade - 2ª Parte

2010 O ANO INTERNACIONAL DA BIODIVERSIDADE - Segunda Parte


Por Ricardo Quinteiro de Mattos



No número anterior, abordamos a proposta da ONU, de dedicar 2010 como o Ano Internacional da Biodiversidade. Tratamos de alguns conceitos ambientais e da postura do editor do Jornal Atual de assumir a responsabilidade social, dedicando matérias nesse jornal, sobre a causa ambiental. Ficamos de tratar, nessa fase, sobre o Livro vermelho e sobre a ameaça constante das espécies silvestres.

O Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção 2008, é um condensado de artigos científicos, de leis ambientas, resgate histórico de listas anteriores e de pesquisas realizadas por diversas instituições públicas e privadas, como: Universidades, Organizações Governamentais e ONGs, que ajudaram a atualizar a lista de espécies ameaçadas de extensão e já extintas. Essa lista é chamada, em todo o mundo, de Lista Vermelha. Até o ano de 2008, a lista era publicada através de uma Portaria Ministerial. A edição 2008 é a segunda em forma de livro no Brasil. No entanto, a Lista de Espécies da Flora Brasileira foi editada por Instrução Normativa.

Nos anos sessenta, vários países tomaram a iniciativa de organizar suas respectivas Listas Vermelhas. O Brasil elaborou a primeira lista de espécies ameaçadas em 1968. A partir dessa primeira lista, muitas outras vieram atualizando o conteúdo. Até 2008, muitas espécies saíram da listas e ouras entraram. O que assusta, é que poucas saíram e muitas entraram. A Harpia, com foto na edição do Jornal Atual anterior, saiu da lista de espécies ameaçadas, pelo número de indivíduos encontrados na floresta amazônica.



No ano de 1966 a IUCN - União Mundial Para a Natureza passou a organizar uma Lista Vermelha em escala mundial. Porém, sem fazer um cruzamento. Acontece, que uma espécie da fauna, cujo habitat é uma área tão grande que extrapola a fronteira de mais de um país. Pode ocorrer de uma espécie estar em ameaça de extinção na lista de um país e não estar na lista do outro. Por tanto pode uma espécie estar ameaçada de extinção a nível mundial e não estar em determinado país. Veja o caso da Floresta Amazônica: Os governos criaram fronteiras e nesse bioma existem divisas políticas entre vários países. No caso da Mata Atlântica, na região sul, avança por mais dois países, Argentina e Paraguai. Ainda existem outras listas, sete Estados brasileiros fizeram listas das espécies ameaçadas de seu território, em datas diferentes. Todos deveriam estar fazendo com um calendário estabelecido. Assim as listas poderiam ser cruzadas e facilitar e sistematizar a lista nacional. Alguns biólogos também já publicaram através de suas entidades de classe listas de espécies de taxonômico, dos quais são especializados.

Para a edição de 2008, o Ministério do Meio Ambiente – MMA criou no âmbito da Comissão Nacional da Biodiversidade, uma Câmara técnica permanente de pesquisadores de várias organizações para atualizar a lista. O MMA ainda contou com a parceria da Fundação Biodiversitas, sediada em Belo Horizonte, que coordenou a execução desse trabalho. Os recursos financeiros para sua elaboração e publicação foram fornecidos pelo Projeto de Conservação e Utilização Sustentável da Diversidade Biológica Brasileira– PROBIO e do MMA.

Com o título de país megadiverso, o Brasil possui entre as espécies conhecidas pela ciência, 3000 peixes, 800 anfíbios, 680 répteis, 1800 aves, 530 mamíferos e incontáveis números de invertebrados. Em contra partida, a lista vermelha apresenta 627 espécies da fauna brasileira ameaçadas de extinção, sendo 419 de vertebrados, como peixes, anfíbios, répteis, aves e mamíferos sendo esse último grupo liderando a lista e 208 de invertebrados aquáticos e terrestres, Entre as espécies extintas foram relacionadas 4 espécies de aves.
Apesar de todo esse esforço, existem muitas espécies que ainda não conhecemos, são chamadas de espécies ocultas. Portanto, ainda há muito a fazer.




A essa altura, vocês já devem estar perguntando. -Para que serve essa lista? -Quais os critérios e a Metodologia usada? Bem, a resposta vai para o próximo número. Também vamos abordar a utilização dessa lista e o que o MMA faz para cuidar das espécies que nela estão e os instrumentos de gestão e implementação de planos de manejo. Até lá.

domingo, 18 de julho de 2010

2010 O ANO INTERNACIONAL DA BIODIVERSIDADE












2010 O ANO INTERNACIONAL DA BIODIVERSIDADE
Por Ricardo Quinteiro de Mattos
O ano de 2010 foi escolhido pela ONU para ser o ano da biodiversidade. O que representa a adição de mais uma tentativa de chamar a atenção das pessoas para a ameaça de extinção de varias espécies da flora e da fauna no mundo. A que ponto a humanidade chegou.
Mas o que é biodiversidade? Nos Biomas, existem grande variedade de organismos, sob várias formas, tamanhos e cores, dentro e fora da água. Podem: nadar, correr e voar. Literalmente Bio é vida e Diversidade é qualidade daquilo que é diverso, diferente ou variado. Vale a pena lembrar que Bioma é um domínio de formação de flora e fauna, que formam paisagens comuns e são caracterizadas por suas espécies. Um bioma tem vários ecossistemas. A Zona da Mata mineira está no domínio do Bioma da Mata Atlântica.
As árvores e animais encontrados no meio ambiente são denominados pelos pesquisadores de biota. Quando eles estão ameaçados de extinção, passam a fazer parte de uma lista do livro vermelho. Existem varias entidades governamentais e não governamentais que fazem monitoração dessas espécies, portanto os números dessa lista podem variar um pouco, o que podemos afirmar com mais segurança é que todos os índices estão crescendo muito.
Podemos relacionar como fatores determinantes que ameaçam a biodiversidade: O desmatamento; a poluição; a expansão de áreas agrícolas, de pecuária e de mineração; caça, pesca predatória e a apreensão para tráfico.
Minas Gerais é o Estado onde devastação da Mata Atlântica foi maior, proporcionalmente ao tamanho da sua área. Na superfície do relevo onde ainda possui remanescente da mata, a quantidade encontrada é inferior ao considerado necessário à manutenção da biodiversidade. Além disso, a falta de corredores ecológicos entre as Unidades de Conservação dificultam a interação genética das espécies. Portanto nossa tarefa é muito maior.
Existem dois biomas brasileiros na lista dos mais ricos em biodiversidades e ao mesmo tempo mais ameaçados do mundo, a Mata Atlântica e o Cerrado.Os dois com mais vinte e três biomas de todo o mundo estão em estado alarmante. O que eles têm em comum é que já tiveram mais de 75% de sua mata original destruída. No Caso da Mata Atlântica 93% já foram destruídos e por isso suas espécies de plantas e de animais correm sérios riscos de extinção.
Depois que uma espécie entra na lista das espécies ameaçadas, tudo é mais difícil. Uma espécie ameaçada precisa ser monitorada e protegida e ainda assim corre o risco de deixar de existir. Sua existência não depende só do número de indivíduos, depende também da variedade genética de grupos e famílias dentro de uma mesma população. É também importante uma grande área de vegetação com elementos produtores para atender a necessidade de toda biota consumidora. Portanto é menos complicado desenvolvermos ações agora, antes que espécies entrem na lista vermelha.
O Brasil através de sua comunidade cientifica e do governo federal, faz parte acordos e convenções internacionais para conservação de espécies da fauna e da flora ameaçadas. Comunga com a Convenção para a Proteção da Flora, da Fauna e das Belezas Cênicas Naturais dos Países da América e com a Convenção de Washington sobre o Comércio Internacional das Espécies da Flora e da Fauna Selvagens em Perigo de Extinção (CITES).
Apesar da iniciativa da ONU, as ações preservacionistas continuam pontuais como antes. Mais como não queremos ser injustos vamos monitorar e publicar as mudanças de comportamento das pessoas.
Já alguns anos o Jornal Atual tem contribuído com uma atenção especial ao Meio Ambiente, publicando matérias educativas e ilustrativas.
É nesse sentido que o Jornal Atual abre um novo espaço. Onde você poderá contribuir interagindo com informações sobre ações que podem parecer isoladas, mas que estão contribuindo com a conservação da biodiversidade da Mata Atlântica na Zona da Mata Mineira ou em qualquer lugar dos 17 estados onde é encontrada. Pode ser uma ação pessoal, um projeto comunitário ou escolar e um projeto empresarial. Você poderá também mandar para nós uma informação que considere interessante, obtida pela sua observação de um animal silvestre que aproxima da periferia das cidades em busca de alimento. Como uma aparição de um casal de Tamanduá Bandeira – na lista de extinção - que vi no bairro Colinas em Cataguases em 2008, o relato de uma onça parda vista atravessando a estrada no município de Argirita ou ainda uma Jacutinga que se exibe na BR 116 chegada de Muriaé. Portanto fique atento!
Além do relato é importante que escreva seu nome completo, a cidade e coloque o email e o telefone para contato.
No próximo número do Jornal Atual vamos explicar o que é o Livro vermelho e apresentar alguns números sobre as espécies ameaçadas de extinção. Durante os próximos seis meses iremos publicar varias informações sobre a Mata Atlântica, em Minas Gerais. Além de informações científicas, vamos comentar sobre instrumentos de preservação, curiosidades enviadas pelos leitores. No final do ano vamos apresentar um balanço das informações enviadas.
Contato: biodiversidade.atual@hotmail.com

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Modelado de Cataguases e Região

MODELADO DE CATAGUASES E REGIÃO
Saiba por onde andas !
Ricardo Quinteiro de Mattos - 2008
O termo Modelado entrou em desuso no meio acadêmico, ele era mais usado quando os pesquisadores descreviam superficialmente uma região, apenas um retrato do relevo e não descreviam cientificamente a origem do relevo. No entanto com uma paisagem exuberante a Zona da Mata merece esse título, por questão estética, ainda que nossa descrição literalmente será morfológica. A morfologia , estuda e define a origem, estrutura geral, a natureza das rochas e as forças que nelas atuam.
A Zona da Mata mineira está precisamente no trecho mais rebaixado da Mantiqueira, este relevo é denominado de Planaltos Cristalinos Rebaixados, no sudeste brasileiro.
O relevo ondulado tem altura com relação ao nível do mar de 300 a 400 metros e pontos que chegam a ter espigões de 800 a 1450 metros de altitude.
Nesta região as rochas de gnaisses e granitos, sofrem constantemente com a ação de outros elementos da natureza que provocam sua deteorização. Os detritos resultantes dessa erosão dão origem a argila vermelha e a amarela. Algumas faíscas de pegmatito são encontradas nessas rochas, que provocam o aparecimento da argila branca que é o caulim.
Rios e ribeirões dessecam o planalto cristalino, com destaque para o Rio Pomba e o Paraíba do Sul e os tributários de ambos. Eles têm uma participação muito importante na formação dos vales e dos alvéolos. A bacia do Pomba é responsável pela drenagem das águas que aqui caem e pelos extensos alvéolos, criados por entre encostas íngremes, no seu leito surgem o fundo rochoso e os desníveis dos alvéolos, favorecendo as quedas d’águas e o aparecimento de terraços anexados nos alvéolos que são ocupados por núcleos populacionais, como é o caso de Cataguases, D. Euzébia, Astolfo Dutra e tantas outras cidades.
Quem passa por Santa Bárbara do Tugúrio em direção a Barbacena, logo ao transpor a ponte sobre o Rio Tinguá, começa a admirar o penhasco à esquerda. Nele ressalta o filete d’água, que vai crescendo à medida que se vai evoluindo na estrada. De forma cristalina despenca por aproximadamente 100 metros na cachoeira do rio Ramalho. O que se pensa ser a nascente do Pomba é o Rio Ramalho correndo para ajudar a formar o Pomba.
O Rio Pomba nasce da fusão de quatro rios: o Rio Ramalho, com o Rio do Tinguá e o Rio Cachoeira do Castelo com o Rio Rodrigues. O Tinguá se une com o Rodrigues no município de Santa Bárbara do Tugúrio.
Santa Bárbara do Tugúrio está no sopé de um extenso vale entre dois contrafortes da Cadeia da Mantiqueira. Do lado esquerdo da vertente está a Serra do Sapateiro, do lado direito a Serra do Ramalho e no topo está Correia de Almeida, distrito de Barbacena.
O ponto preciso, onde a população local passa a denominá-lo, de Rio Pomba , localiza-se numa pequena barra, próxima a ponte do rio Tinguá, onde ocorre o encontro dos Rios Tinguá e Rodrigues, no terreiro do Sr. Augusto Reis. Contou-me ele do alto do seu pomar, apontando para a barra dos rios: “O Tinguá ao encontrar aqui o Rodrigues dá inicio ao Pomba. O Tinguá tinha até pouco tempo apenas uma desembocadura, agora está assoreada. Na sua boca surgiu esse monte de areia com vários filetes de águas”. As constantes enxurradas foram transportando muita areia e cascalho do seu leito, pela encosta da serra abaixo. Na barra formou-se um delta com várias pequenas saídas que se desviam dos montes de terras, areias e pedras.
O Rio Rodrigues é mais estreito e mais profundo, nasce na Serra do Sapateiro serpenteia por trás da serra e recebe as águas do Rio Cachoeira do Castelo.
O Rio Cachoeira do Castelo é de pequena extensão, nasce na Serra do Sapateiro e tem uma linda Cachoeira, que dá origem ao nome do rio.
O Rio Tinguá é largo, raso e de curta extensão, é muito sinuoso, suas águas, muito claras, e o fundo é de cascalho. Nasce onde termina o Rio Ramalho.
O Rio Ramalho nasce na Serra do Ramalho, próximo a um lugar chamado Chapadão, no distrito de Correia de Almeida, município de Barbacena.
A caminho do médio e baixo Pomba, já não há mais a mata, resta apenas algumas coroas nos montes com topografia em "meia-laranja", também chamados mamelonares ou mares de morros, formados pela intensa ação erosiva na estrutura cristalina das Serras adjacentes.
Passa por Cataguases inspirando poetas, pintores e pescadores. Vai desaguar no rio Paraíba, em Itaocara, RJ. No Pomba já construíram quatro usinas hidroelétricas com represas um pouco menores que a da usina Maurício, no rio Novo. Agora estão construindo mais uma na barra do Bruna, tributário do Pomba na margem esquerda, município de Palma. Isso quer dizer que os peixes não vão mais chegar a Cataguases em breve.
O que me deixa abismado é que estamos no auge de tantas campanhas ambientais e mesmo assim continuam com a construção de lagos artificiais onde se deveria estar sendo realizando o reflorestamento da mata ciliar.
O avanço do mar sobre a praia de Atafona na planície dos Goitacáz é uma conseqüência do represamento das águas, fazendo com que o rio perca força e volume suficiente para segurar o mar em seu limite e também da transposição do Paraíba em Barra do Piraí para o Rio Guandu, completando o abastecimento do complexo metropolitano do Rio de Janeiro. Portanto um aviso de que a interferência do homem na natureza terá conseqüências catastróficas.
Além do gnaisse e do granito são encontrados em quantidade menores o calcário, grafita gabro, riolito e latério. O latério branco é que da origem a bauxita. Esse mineral também denominado de hidrato de alumínio é resultado da alteração de rochas com grande teor de feldspatos, que por sua vez é de origem silico-aluminosos a base de potássio, sódio e cálcio.
O Planalto Cristalino Rebaixado está entre as escarpas do planalto da Mantiqueira e o maciço do Caparaó. A Mantiqueira tem seu ponto culminante em Itatiaia e o Caparaó com Pico da Bandeira. Estamos geomorficamente falando em um terreno deprimido de bordas de fundo, que vai aumentando nas bordas das escarpas da Mantiqueira a oeste e nos contrafortes de Caparaó a leste . daí a expressão “mar de morros”.
A Mantiqueira tem pelo menos três significados nas diversas línguas indígenas: A montanha que chora, a mãe das águas e gotas que caem. Ela é o segundo degrau do planalto brasileiro e o grande divisor de águas que correm para o oceano atlântico.
Por tanto, o relevo da Zona da Mata é resultante do Arqueamento que afetou o escudo tectônico do sudeste na era mesozóica. Arqueamento é o movimento epirogênico de placas da crosta terrestre, que produz arcos de grande curvatura dando o aparecimento de áreas levantadas, é portanto a origem das serras e dos planaltos.
Essa obra da natureza, surge da cristalização das primitivas rochas eruptivas, distribuídas no magma incandescente, surgido na era azóica.
O arqueamento brasileiro é a mais antiga e estável formação geológica das Américas. E uma grande escultura da primitiva crosta terrestre de origem pré-aquática da era azóica, caracterizada pela formação de sedimentos e pela evolução biológica.
Todos esses aspectos geológicos continuam em transformação embora não seja perceptível aos nossos olhos distraídos. Precisamos estar atentos no sentido de evitarmos a aceleração desse processo, provocado por interferência da ação humana em projetos econômicos, já que a recuperação do que foi destruído é diluída nos debates, o planeta caminha embalado pela música que é a nova sensação:“cada um no seu quadrado”.