quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Zona da Mata e o Dia da Árvore

O leste da Zona da Mata mineira e o Dia da Árvore


Ricardo Quinteiro de Mattos




A população do leste da Zona da Mata desde a formação política dos primeiros municípios, já se preocupava com a devastação da floresta. A população urbana reivindicava como podia, mas os poderes municipais estavam politicamente submissos ao governo ditatorial dos primeiros anos da República.

Os processos de expansão agrícola, da pecuária e do crescimento das ferrovias, levaram uma parcela de investidores a continuar desmatando incontrolavelmente. O país, no início do século, deu prosseguimento a política comercial de exportação de produtos extrativistas e agrícolas de monocultura e ainda financiava o desmatamento.

Para manter equilíbrio na balança comercial, o governo incentivava o aumento da produção, principalmente de café, e a exploração de madeira de lei, para abastecer o mercado mundial. A Europa que expandia suas estradas de ferro a todo vapor e já havia destruído suas florestas, era a principal importadora.

A exploração desmedida e a ausência de técnicas de adequadas de manejo, fez exaurir os nutrientes do solo dessa região, fazendo cair a produtividade. Esse desgaste e a queda de preço do café levaram os cafezais a serem substituídos por áreas de pastagem. A situação piorou, pois as queimadas passaram a ser anuais, eventualmente atingindo as poucas matas que restaram.

Em Cataguases jornais e revistas, porta vozes da comunidade, publicavam importantes artigos denunciando a devastação e exigindo medidas contra o desmatamento.

Saindo do discurso para a prática, na primeira década do século XX, foi iniciada a arborização urbana de Cataguases, com a escolha de magnólias e oitis, espécies da Mata Atlântica. Plantaram na primeira remessa, 317 mudas distribuídas por algumas ruas do centro da cidade. O objetivo inicial da arborização foi o saneamento, por indicação do Engenheiro Paulo de Frontim, que foi contratado para projetar a rede de coleta e distribuição de água potável e a rede de esgoto. De quebra Frontin, projetou as muretas do Córrego Lava-Pés. Hoje essas árvores fazem parte do nosso patrimônio natural e cultural, também cumprem um papel paisagístico, de embelezamento da cidade e continuam a exercer a inerente tarefa de atrair e abrigar uma grande diversidade de pássaros e uma infinidade de insetos.

A Revista da Mata, editada em Cataguases e de circulação em toda a Zona da Mata, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, publicou, em setembro 1917, um artigo parabenizando o governo por instituir o dia da árvore e por enaltecer as belezas naturais do Brasil. O artigo afirmava que só isso não bastava e alertou: “Cumpre também que se apliquem os meios necessários a sua conservação” e indo mais além, no final convoca: “Sejamos úteis”.

A festa do Dia da Árvore, nesse ano, foi para a cidade de Cataguases, um grande evento. Enquanto em outros municípios a comemoração acontecia apenas no âmbito escolar, aqui, a data foi comemorada na rua, como continuidade do plano de arborização da cidade. A festividade iniciou no largo, da Av. Cataguases, hoje Av. Astolfo Dutra, onde se encontra a Herma, com o busto do Dr. Astolfo. Todas as instituições escolares presentes entoaram o Hino a Árvore, de Coelho Neto e plantaram várias mudas. Daí saiu em cortejo levando faixas e estandartes em direção à Praça do Comércio, hoje Rui Barbosa. Na praça, já ornamentada, ocorreu uma solenidade cívica e a abertura oficial da primavera.

Em 27 de abril de 1921, a cidade de Cataguases recebeu a visita do diretor de serviço de reflorestamento da Secretaria Estadual de Agricultura, com o objetivo de realizar uma conferência e acertar o envio da capital de mais mudas nativas.

Foi nesse clima de cidadania que foi criado o Horto Florestal, em 1922, e em 1924 foi doada a área municipal para o governo do Estado.

Durante muitos anos, o viveiro de mudas do Horto Florestal de Cataguases foi fundamental para a recuperação florística de grande parte da região, totalizando 16 municípios beneficiados. Por sua importância, em 1994, foi reclassificado como Unidade de Conservação, sob administração do IEF, com a denominação de Estação Ecológica Água Limpa. Nesse último ano, o viveiro produziu 50 mil mudas de árvores nativas e 500 mil exóticas.

Nos últimos dez anos, o viveiro da CBA e Votorantim, também vem contribuindo com a produção de mudas para a região. Em média, são produzidas 90 mil mudas de árvores nativas da Mata Atlântica. Essas mudas são direcionadas a reconstituição de áreas de mineração e reflorestamento de áreas desmatadas em outras situações. Atendem também as solicitações de vários órgãos que os procuram em busca de parceria.

Essa vocação de reflorestamento desencadeou na região o surgimento de vários empreendimentos particulares de produção de mudas, que abastecem todo o país, tendo o município de Dona Euzebia, como destaque nessa atividade.

O dia da árvore está chegando e uma ampla parceria está sendo realizado, esse ano, para comemorarmos essa data e a chegada da primavera. Envolve o IEF, o IFSP, a ARPA, a Polícia Ambiental e a Secretaria de Meio Ambiente de Cataguases. Portanto, esperamos que a comunidade envolva-se como nos velhos tempos. Recorrendo a Eurico Rabelo, editor da Revista da Mata, fazendo de suas palavras as minhas, convoco a todos: Sejamos úteis.