quarta-feira, 6 de abril de 2011

OUTONO: UMA ESTAÇÃO MADURA

OUTONO: UMA ESTAÇÃO MADURA


Por Ricardo Quinteiro de Mattos


Quem pensa que o colorido do verão vai embora com o fim da estação, está enganado. O outono chegou e com ele o amadurecimento de uma grande evolução que atravessou algumas estações. A primavera é a infância, o verão a adolescência e o outono é a plenitude da vida de um jardim. Os jardineiros, jardinistas, paisagistas e observadores mais atentos a natureza, sabem que o outono tem muitos encantos e comemoram a chegada da estação.

Para quem vive no hemisfério norte, agora é primavera. Lá o outono é em setembro, onde, na maioria das árvores, as folhas se avermelham e caem, é a estação denominada de outono boreal. Apesar do primeiro registro de estações do ano, está encravado no monumento megalítico de Stonehenge, construído na idade do bronze, a origem da palavra é latina, que traduzindo é Autumnus. É ainda no velho continente durante a idade média, que se torna um marco importante para trabalho e para a festa. Marca a época da colheita e ao seu final uma grande comemoração.

Há registros dos Tupinambás, que viviam por todo o litoral brasileiro, de terem atividades de subsistências ligadas aos calendários, solar, lunar e estelar. Sabiam muito bem quando chegava o outono. Era quando no céu (eivac) surgia ao leste a Uènhomuã uma brilhante estrela (jaceí-tatá). Vinham as últimas chuvas e entrava a temporada de pesca de lagostas e camarão, entre março e maio.

Aqui no hemisfério sul, inicia às 21h20 de 20 de março e termina em 21 de junho, é denominado de outono austral. É quando já não se pode mais ver a constelação de Órion, que se despede com o verão. Surge no céu a constelação de Leão, linda de se observar.

Esta fogosa estação não tem fronteiras geográficas no Brasil, mesmo tendo o país seis biomas diferentes com vários ecossistemas, a estação entra com personalidade marcante. Mas o que faz a diferença, do outono para as outras estações no nosso país é ver tanta diversidade aflorada, o que nos da à certeza que a vida no hemisfério sul é maravilhosa.

Isso acontece devido à inclinação da terra que nessa época traz ao hemisfério sul o fenômeno denominado equinócio de março, onde o dia e a noite, passam ter a mesma duração.

O jardim em um país tropical deve ser bonito o ano todo, a natureza articula para que isso aconteça, como faz nas florestas nativas. Mesmo depois um verão transbordando de energia solar direta e de chuvas torrenciais a biosfera brasileira sai do stress sem perder o colorido.

Por falar em cores - começando pelas nativas – no outono ocorre a florada da paineira, da quaresmeira de inflorescência roxa e rosa, da acácia brasileira, do manacá da serra, da helicônia, da alamanda, do pau-cigarra, do sombreiro, e tantas outras. Prosseguindo – falando das exóticas – os ipês de jardim, flor de abril, e a orquídea sapatinho. Por incrível que pareça, algumas árvores estão na fase de brotação de folhas novas, como o oiti da Mata Atlântica e a mangueira da Ásia.

Temos na Mata Atlântica árvores caducifólias, também chamadas de deciduais, que perdem as folhas durante o outono e o inverno. Ficam agrupadas em um ecossistema e divididas em tipos que variam conforme a altitude que se encontram.

Os pássaros já entenderam que é outono e não estão nem aí para zona de convergência do atlântico sul. Os endêmicos estão de volta aos ninhos. Sabem que quando o inverno chegar continuarão a criar seus filhotes, apesar de diminuir a oferta de alimentos, não lhe faltarão a ponto de comprometer a vida dos pequeninos. Os pássaros migratórios, como as andorinhas, sabem que chegou à hora de arribar. Já estão com seus filhotes prontos e com acúmulo de energia suficiente para seguirem o maior desafio de suas vidas. Ensinaram aos seus filhotes nessa primeira viagem como cruzar os continentes.

Outro fato marcante do outono, que ocorre no sudeste brasileiro são as águas de março, que para a maioria da população do interior de origem rural é chamada de chuvas das goiabas. Este ano está na quantidade certa. Isso quer dizer que a fruta mais abundante do outono, a goiaba, mais uma vez será o destaque, os maracanãs se saciarão e teremos fartura de goiabada e geléia.

Se a primavera é a estação do amor o outono é a estação da paixão, é porque o amor e a primavera são movidos pela razão, construídos passo a passo por um conjunto de emoções que são duradouras. O outono e a paixão são movidos pela emoção, já nascem prontos, portanto, é preciso aproveitar o momento.

Resta-nos desejar a todos admiradores da natureza uma ótima outonada e que desfrutem das maravilhas que essa estação proporciona. Que as colheitas de frutos, flores, soja e milho sejam fartas e utilizadas com sabedoria, quero dizer de forma sustentável.

Os nativos das Américas, Central e do Sul, também definiam as estações. Os astecas, incas e Maias dominavam a astronomia e construíram grandes monumentos para esse estudo.

Acho que Tim Maia, quando disse em uma de suas canções “Quando o outono voltar, eu quero estar junto a ti”, quis dizer que o outono não é só para viver uma grande paixão, é uma estação tão apropriada para o amor e como a primavera e por isso vale a pena amar e deixar esse amor se inspirar na natureza.

Tem inicio com o equinócio de março, onde o dia e a noite passam a ter a mesma duração e termina no solstício de junho. É só mesmo com a proximidade do inverno que se acomoda e espera a primavera se recuperando