quinta-feira, 10 de março de 2011

2011 ANOINTERNACIONAL DAS FLORESTAS

2011 Ano Internacional das Florestas


Ricardo Quinteiro de Mattos



Uma nova estratégia da ONU está lançada e não é para menos. Assim como foi positivo o ano passado ser declarado 2010 Ano Internacional da Biodiversidade, esse ano foi declarado por assembléia geral, 2011 como Ano Internacional das Florestas, com o objetivo de divulgar a sustentável conservação de todo os tipos de florestas. Esperamos que essa nova experiência tenha resultado igual ou superior ao de 2010.

Nesse sentido, o Jornal Atual se propõe abrir o debate e a promover o diálogo sobre as florestas do mundo. São sete bilhões de pessoas que dependem de forma vital dessas florestas.

Mas como definir a floresta sem enveredar pelo lirismo? Como ser capaz de forçar a ser incessível a tal ponto? Não tem jeito. Indiferente ao ceticismo de alguns, acredito no amor entre algumas pessoas e plantas e pelo insólito prazer que eles tem de conversar e se entender. Portanto, vou me esforçar e seguir outra direção.

Vamos trilhar pelas origens do desenvolvimento até os dias de hoje. Quem quiser uma definição que entre pela mata e crie sua própria, viva a melhor experiência de sua vida.

O processo evolutivo das plantas é um pouco diferente dos animais. Embora evoluam pelos mesmos princípios da seleção gradual natural, tem diferenças na fisiologia e na reprodução.

A origem das florestas está nas algas marinhas, surgidas há 2 bilhões de anos, no período Ordoviciano na Era Paleozóica. Mas é precisamente no período Devoniano que o mar recua aumentando a área dos continentes, assim os primeiros vegetais passam a ocupar a superfície do planeta. Foi no Carbonífero registrado um procedimento evolutivo de um forte sistema vascular que permitiu o surgimento das primeiras florestas. Uma das primeiras espécies lenhosas foi a samambaia que existe até hoje em seguida a Lepidodentron e tantas outras espécies fósseis, já extintas. Nas Eras seguintes em seus variados períodos deu início ao martírio.

As plantas com flores surgiram a partir do grupo das gimnospermas, há 345 milhões de anos, um grupo de vegetais com sementes que não são envolvidas por frutos com polpa, um exemplo é a araucária. As espécies com flores, incluindo árvores, formam o grupo mais diversificado de plantas, são as angiospermas, que evoluíram a partir 135 milhões de anos até chegar à forma que possuem hoje.

Durante a evolução do planeta ocorreram vários cataclismos, choques e separação de continentes, choques e sobreposição de placas tectônicas, vulcanismo e glaciações. Segundo estudos geológicos foram de tamanhas proporções que geraram mega fases de desertificações com poeira sufocante e glaciações com frio inóspito. Isso sem falar no bombardeio que o planeta vem sofrendo de corpos celestes.

Por vários períodos diferentes houve extinção em massa de seres vivos, e agora são os seres humanos que colocam um novo em curso, com suas ações destrutivas. A grande diferença é que os primeiros se desenrolaram na casa dos milhões de anos e o último, a que tudo parece, não passará da casa do milhar, a menos que façamos alguma coisa.

Na Era terciária, as florestas sofreram catástrofes terríveis que quase sucumbiram, muitas foram soterradas e fossilizadas, transformadas em jazidas de carvão mineral e bacias petrolíferas.

Na Era Quaternária as florestas se recuperaram, surgiram novas espécies e tomaram a aparência que temos hoje. Também, uma nova espécie, a dos primatas, entra em processo de evolução, dando origem ao homem, o novo cataclismo.

A vida vegetal é completa. Nenhuma forma de vida do nosso planeta interage de forma sublime entre si e com outras formas de vida, como as plantas. Como definição de beleza e estética, sua forma de viver é tão bonita quanto sua aparência. É uma ignorância dizer que vegetar é se anular ou alienar é bom que se arrume outra metáfora para nulidade, vegetar é viver em harmonia.

A floresta, às vezes é profana, foi rotulada de lugar perigoso, morada das bruxas e do lobo mal. No inconsciente coletivo, é o esconderijo de bandidos, facínoras e feras insaciáveis. As nossas mães nos aterrorizam, quando crianças, com histórias européias sobre florestas assustadoras, com tudo isso, não há criança que queira nela brincar, com exceção dos escoteiros.

Outras vezes é sagrada, é cenário do paraíso cristão. Do nome de suas árvores os portugueses batizaram muitas famílias. Os Tupinambás acreditavam que os bons, quando morriam, seus espíritos iam para o alto das árvores, um paraíso.

É um ambiente romântico, foi onde Ceci conheceu Peri. Onde viveu Iracema, a virgem dos lábios de mel de cabelos mais negros que as asas da Graúna. Onde Riobaldo e Diadorim, no intervalo de uma refrega e outra, admiravam pássaros. Cenário da conturbada vida de Lampião e Maria Bonita. A restinga onde se passa a saga de Malanesa e Kin.

A floresta é também um lugar mágico. Veja esse pequeno trecho da fábula, A ÁRVORE QUE VIROU LIVRO, onde uma árvore narra seus temores “Eu sempre soube que a floresta era envolvida por magia, corria com o vento histórias de fenômenos que ultrapassam o limite da natureza. Falam de flores que foram transformadas em perfume, de seivas em cosméticos, de folhas em chá, frutos em doces e raízes em remédios Que horror! ”

No planeta contabiliza-se aproximadamente 3,7 milhões de espécies, no entanto, apenas 1,7 estão catalogadas. No hemisfério norte, as florestas temperadas têm o solo mais rico em fosfato, potássio e cálcio, porém, o clima é muito frio e não tem tantas variedades, o que torna mais fácil o manejo dessas florestas.

No Brasil, a floresta está presente de muitas formas. São sete biomas brasileiros, com exceção do marinho costeiro, os outros seis terrestres e seus vários ecossistemas, todos têm matas, mesmo em áreas de transição. Está em primeiro lugar de um grupo de 18 países que possuem 70% das florestas de todo o mundo, tendo o Brasil 20%. Hoje já temos catalogadas 13 mil espécies de fungos e 40 mil espécies de plantas vasculares. Porém, nas listas oficiais só estão presentes 43 mil espécies, contando com fungos, algas, briófitas, pteridófitos, gimnospermas e angiospermas.

Em conversa com o pesquisador Gustavo Martinelli, do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, ele afirmou que o trabalho de catalogação das espécies é demorado, diante da complexidade. Esse foi motivo pelo qual foi publicado o Livro vermelho da Fauna Ameaçada de Extinção e não ter ficado pronto o Livro vermelho da Flora, tendo sido publicado apenas uma lista. Nela consta 472 espécies ameaçadas e 1100 em potencial ameaça.

O primeiro botânico a pesquisar e catalogar as espécies da flora do Brasil foi o médico alemão Carl Friedrich Phillipp Von Martius, que viajou por quase todo o Brasil pesquisando, com seu inseparável amigo, o zoólogo Johann Baptiste Von Spix. Em uma das viagens veio a Zona da Mata mineira, precisamente a Sapé, hoje Guidoval, onde se encontrou com Guido Marlière. Martius em seu livro narra à exuberância da Zona da Mata. Foram três anos de pesquisa e 48 para organizar a obra. Alguns anos mais tarde ele e seus colaboradores publicaram o livro com o titulo Flora Brasiliensis, onde foi relacionado e descrito 22 mil espécies, ou seja, 1/3 do que temos hoje.

Toda essa grandiosidade, não pode ser apenas motivo de ufanismo mais também de mais responsabilidade por parte dos que foram favorecidos pela natureza.

Protetores da floresta são muitos, mas há dois exemplos emblemáticos que os citando, quero contemplar a todos. Augusto Ruschi- Agrônomo e ambientalista que viveu a maior parte de sua vida protegendo a Mata Atlântica, no Espírito Santo. Tornou-se o maior especialista do mundo em orquídeas e beija-flores, faleceu em 1986 devido ao agravamento de malaria e esquistossomose. O outro é Chico Mendes, homem da mata e seringueiro viveu toda sua vida em Xapuri, no Acre, protetor da Floresta Amazônica. Esse cirurgião de árvores só foi alfabetizado aos 20 anos, introduziu no país o conceito de sustentabilidade das florestas e seu manejo, foi propositor das 50 primeiras Reservas extrativista do Brasil. Reconhecido mundialmente como um ativista ecológico que buscava o caminho da paz na disputa da posse da terra. Foi assassinato em 1988.

Não vamos detalhar nesse artigo sobre a Mata Atlântica onde moramos, porque já falamos sobre esses detalhes, no entanto, vale a pena, como leitura complementar, solicitar as edições de nº 47,48,49 e 50, do jornal Atual. E também ler a fábula descrita com o titulo Árvore Que Virou Livro. Só acessar o seguinte link: biodiversidadeatual.blogspot.com

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